O medo é um dos instintos considerados maus, de segunda classe, que a gente tenta reprimir o tempo todo, vivendo como se ele não existisse. Só que, como todo instinto reprimido - fera dentro da jaula -, ele informa nosso comportamento. Muitas pessoas têm sede de poder, e você descobre que na verdade isso é medo. A gente tem insegurança e descobre que insegurança é o nome elegante do medo. Assumimos um papel e deixamos outros de lado e acabamos descobrindo que deixamos os outros papéis de lado porque temos medo.
Frequentemente, por exemplo, nos atiramos num excesso de trabalho, sem perceber que estamos fugindo de uma agradável e assustadora possibilidade de realização afetiva. Então, em vez de fingir que o medo não existe, é melhor ouvi-lo e saber para que ele serve.
O medo tem fundamentalmente três funções: é preparatório, é pedagógico e é estimulante. Preparatório porque ele prepara o corpo para uma reação que vem a seguir. Estou parado e de repente ouço um barulho lá fora. Isso me assusta. Sinto que meu corpo se carrega de uma carga de energia. O representante psíquico, a emoção que vou sentir, chama-se medo.
Na hora em que levo o susto, o meu diencéfalo manda uma ordem para a minha suprarrenal, e ela joga no sangue um hormônio chamado adrenalina. Qual é a função da adrenalina?
Preparar o organismo para uma TV reação - de enfrentamento ou de fuga. A adrenalina permite que muito sangue de boa qualidade se dirija aos locais onde ele é necessário (os músculos) e retira essa mesma quantidade de sangue de outras regiões. Há uma dilatação das artérias dos músculos e, ao mesmo uma contração das artérias das vísceras, da pele e do cérebro.
Isso acontece porque não vou precisar de sangue no intestino, no estômago ou na pele, mas, sim, nos músculos - para lutar ou fugir. O coração começa a bater rapidamente para o sangue correr depressa, e eu tenho taquicardia. O sangue também precisa ser bem oxigenado. Então, começo a respirar rapidamente para oxigená-lo. Para respirar rapidamente, paro de inspirar pelo diafragma e começo a respirar com os intercostais: fico com taquipneia. O baço se contrai e joga glóbulos sanguíneos na corrente sanguínea. O pâncreas libera insulina, e o fígado produz glicose. A insulina vai queimar a glicose nos múscu-los. Existe ainda uma dilatação da pupila. Todos os pelos do meu corpo ficam eriçados, e há uma contração das glândulas sudoríparas, provocando um cheiro característico. Em casos extremos, ocorre um relaxamento do esfíncter, e a pessoa elimina fezes e urina para assustar o adversário. Tudo isso acontece no organismo cada vez que você tem medo. Ou seja: o animal está preparado para enfrentar a situação de perigo que apareceu. Vai lutar ou fugir. E o instante em que deve atuar a agressividade. A agressividade é um impulso que tira o animal do imobilismo. Se eu não usar a minha agressividade, vou ficar paralisado de medo.
Quem não tem medo é irresponsável e inconsequente.
O medo é uma reação normal e animal. Coragem é ter medo e enfrentar a situação. Quando o animal fica paralisado, o medo prepara-o para ver o tamanho da encrenca. Se a encrenca for igual ou inferior às suas forças, ele ataca. Se for maior, ele foge.
Fugir é uma reação agressiva. O homem é o único animal que continua paralisado, não se move e, quando não se move, o medo fica constante, passando a ser um informante que não o deixa mais reagir.
João, por exemplo, diz que tem medo de autoridade. Havia na história de vida dele uma autoridade que, cronicamente, lhe causava muito medo. Hoje, quando ele entra em contato com qualquer autoridade, fica imobilizado, exatamente como ficava na infância. Quem foi criado por um pai carinhoso, não autoritário, que era próximo do filho, acaba tendo coragem.
Ou seja: a coragem que a pessoa tem, a capacidade de enfrentar as dificuldades, depende do capital afetivo que ela recebeu lá atrás, na infância, especialmente por meio da figura paterna.
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