quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ANGUSTIA NO CAMPO DA MEDICINA, FILOSOFIA, PSICANALISE, TEOLOGIA E EDUCAÇÃO



Introdução 

Quando uma pessoa chega a um consultório, seja ele(a)  procurando um medico, seja ele(a) procurando um psicólogo ou um psicanalista e diz, Dr. “Tenho medo de uma tragédia... não sei dizer qual... Quando me dá esse medo parece que tem algo apertando a minha garganta.”  "Sinto uma coisa aqui dentro de mim... não sei explicar. Algo me sufoca, tenho suores e dificuldade de respirar.”  Este comportamento pode sugerir ao  medico/analista a presença inexorável de um sofrimento que invade o corpo do sujeito. A angústia já é real na presença desta pessoa. Ela conduz muitas pessoas em momentos de crise a procurar ajuda médica quando nada parece poder apaziguá-la. Existe, de fato, uma urgência na angústia e por isso a interrogação da paciente  incrédula – que busca uma cura imediata para algo que invade seu corpo.

Nenhuma palavra, além daquelas que descrevem os sintomas corporais, parece possível: “Tenho um aperto no peito! "Às vezes parece que meu peito vai se abrir.” “A cabeça dói. “Sinto tonturas.” Nenhum sentido: “Isso surge de repente, não consigo entender o porque.” Nenhuma relação entre o sofrimento e os acontecimentos imediatos da vida ou mesmo com a história do sujeito. É o corpo que, em sua materialidade, se manifesta, grita.

Nas situações mais extremas de crises de angústia a impressão que se tem é de que somente a intervenção médica, ou seja, a prescrição de remédios, poderá oferecer um alívio para o sofrimento que urge e desespera o sujeito.
Mas, afinal, o que é angústia? Como os Filósofos define, e os Teólogos,  E o que a psicanálise tem a oferecer para aquele que se vê atravessado por tal experiência? E a angustia na educação?
Essas são algumas questões que este trabalho se propõe a responder. 
Chamamos de angústia a forte sensação psicológica, caracterizada por "abafamento", insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Na moderna psiquiatria a angustia é considerada uma doença que pode produzir problemas psicossomáticos. A angústia é também uma emoção que precede algo, também pode-se chegar a angústia através de lembranças traumáticas que dilaceraram ou fragmentaram o ego. Angústia quando a integridade psíquica está ameaçada, também costuma-se haver angústia em estados paranóicos onde a percepção é redobrada e em casos de ansiedade persecutória. A angústia exerce função crucial na simbolização de perigos reais (situação, circunstância) e imaginários (consequências temidas).

1. A  Angustia na filosofia

No tocante à análise do problema da angústia, Arthur Schopenhauer1 nos apresenta em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida: para ele, viver é necessariamente sofrer. Por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera a angústia e a dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos frente à infelicidade.
É com base em Schopenhauer que um outro pensador alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche, concluiu que, dentre todos os povos da antiguidade, os gregos foram os que apresentaram maior sensibilidade para compreender o sofrimento e a tragicidade da existência humana, como que permeada pela dor, solidão e morte. Segundo Nietzsche2 é preciso ter consciência de que a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência, desse nosso horizonte limitado, colocando mais alegria em nossas vidas.
Jean-Paul Sartre3, filósofo francês contemporâneo, representante maior da corrente existencialista, defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, posto que sempre haverá uma opção de escolha: mesmo diante de A, pode optar por escolher não A. Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que é senhor de seu destino.
Cícero4, filósofo, orador e advogado romano, influenciado por Platão, é o primeiro a definir a angústia como o lugar estreito, a dificuldade, a miséria, a falta de tempo (angustia temporis) e o ânimo covarde (angustus animus). 

Em Sêneca encontramos a temática especialmente no pequeno tratado de filosofia “Tranquilidade da alma”, estruturado na forma de um diálogo entre o filósofo e seu amigo Sereno
O amigo – malgrado o nome – vive momentos de muita aflição em relação à vida e às escolhas que se lhe apresentam e é ele quem dá início a esse belo tratado, solicitando a Sêneca esclarecimentos que aplaquem sua angústia interior e o conduzam a um estado de tranquilidade da alma. Sêneca, então, discursa sobre o mal que inclui tanto aqueles que se atormentam por uma “inconstância de humor, seres que sempre amam somente aquilo que abandonaram” quanto “aqueles que só sabem suspirar e bocejar ... e se viram e reviram como as pessoas que não conseguem dormir ...”. Considera que existem inúmeras variedades desse mal, porém, segundo o filósofo, todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento consigo mesmo5.
O interessante nesse tratado é que Sêneca não responde diretamente às perguntas e dúvidas do amigo, dissertando ao longo das páginas – que se destacam como as mais brilhantes e vivazes do pensador romano – sobre como contornar os obstáculos cotidianos que impedem a paz interior.

Comentários

Os filósofos tentam definir angustia, Arthur Schopenhauer, diz que angustia é : “... viver é necessariamente sofrer. Nietzsche diz que angusta é: ..... ter consciência de que a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência.....”. Jean-Paul Sartre, diz que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre. Cícero, influenciado por Platão, é o primeiro a definir a angústia como o lugar estreito, a dificuldade, a miséria, a falta de tempo  e o ânimo covarde. Sêneca, então, considera que na angustia existem inúmeras variedades desse mal, porém, segundo o filósofo, todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento consigo mesmo. O que podemos entender é que os filósofos contribuíram em muito a psiquiatria e psicanálise na definição de angustia e as causas desse mal.

1 Wikipédia, a enciclopédia livre. Angústia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Ang%C3%BAstia  4
2 R.Q. Cobra Vida, época, filosofia e obras de Martin Heidegger,Lançado 24/01/2003,  http://www.cobra.pages.nom.br/fc-heidegger.html 10
3 R.Q. Cobra, Vida, época, filosofia e obras de Jean Paul Sartre, Lançada em 24/01/2003, http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-sartre-I.html 5
4 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011, p. 9
5 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 p. 2



2. Angustia no Cristianismo

Para além do campo filosófico, o tema também encontrará grande expressão no Cristianismo, como forma de representação do desamparo do homem diante do que é nomeado como o silêncio e as trevas – que são, em última instância, a representação do mal. Nessa perspectiva, é pela fé cristã em Deus que o homem poderá se livrar das aflições da vida terrena, encontrando um caminho libertador. Num importante trecho da Bíblia (Lucas.22.39-46), sobre os Jardins de Getsêmani, existe uma referência ao que teria sido o estado máximo de angústia vivido por Cristo. O que aí se expressa é um momento de extrema humanidade e solidão que se soluciona com a invocação feita a Deus no instante da máxima agonia. Nesse ponto, Jesus ora três vezes, fato que vai servir de modelo a todo cristão: é necessário orar continuamente para vencer as atribulações, porque a angústia sempre retorna. No Cristianismo, e em inúmeras outras religiões, a fé é a resposta para a angústia.
Na Idade Moderna, com a emergência da noção de indivíduo e de individualismo, o tema encontrou seu apogeu na corrente filosófica denominada Existencialismo, com o filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard6. Sustentando a perspectiva religiosa, toma como referência principal para a existência humana as noções de angústia e desespero. Coloca em relevo a ideia de que, assim como Cristo se angustiou até o instante derradeiro, a experiência da angústia é algo inevitável, sendo indicativa do encontro do homem com um momento crucial em que é colocado à prova diante de uma vasta possibilidade de escolhas.
Para o filósofo, a angústia e o desespero estão em estreita relação, pois ambos os sentimentos levam o homem à necessidade de síntese entre finito e infinito, temporal e eterno, liberdade e necessidade7. Como somos únicos, filhos de nossa época, e como vivemos uma única vez, conclui que nossa importância tem que ser maior do que a do universo como um todo. Mas o que é o indivíduo?, interroga. É o espírito, ou eu, afirma.
Para Kierkegaard é o espírito que realiza a síntese da alma e do corpo. O espírito, ou eu, é, por um lado, o elemento terceiro necessário à humanização e, por outro, aquilo que capacita o homem a se aproximar de Deus. 
Essa aproximação só é possível através do desespero, cuja vivência foi muitas vezes exaltada pelo filósofo que fez dos impasses da vida pessoal o fundamento de sua filosofia.
O poeta francês Charles Baudelaire, ao final da poesia “A viagem”, incluída no livro As flores do mal, expressa bem claramente esse momento: “No abismo mergulhar, Inferno ou Céu, que importa? Ao fundo do desconhecido para descobrir o novo!”
É interessante perceber que a psicanálise, apesar de fundamentada em conceitos que se distanciam da filosofia, também destaca que é o encontro com a angústia que vai permitir ao homem uma travessia capaz de fazê-lo descobrir suas possibilidades2. 
Kierkegaard sublinha ainda a humanidade da angústia, observando que não se encontra nenhuma angústia no ser bruto, ou seja, no homem cuja natureza não esteja lapidada com o espírito. Acrescenta que quanto menos espírito, menos angústia. Prossegue, considerando que a presença do espírito traz a consciência de que não há nenhum saber absoluto acerca do bem ou do mal e, assim, todo esse impossível se projeta na angústia, como fundo imenso do nada correspondente à ignorância. É, portanto, o encontro com o nada que engendra a angústia, fato que para o filósofo é, simultaneamente, o encontro com aquilo que é parte do divino.
Num importante trecho de seu livro o conceito de angústia, Kierkegaard considera que existem pessoas que se jactam de não se angustiar. Afirma que a essas pessoas responderia que realmente não devemos nos angustiar por pessoas e coisas, porém, destaca que somente aquele que tenha tido a angústia da possibilidade estará educado para não cair presa de angústia. Também para a psicanálise, como veremos, existe a angústia neurótica, que pode ser elaborada através de um tratamento. Por outro lado, não há como curar o homem da angústia como encontro do real, isto é, como encontro daquilo que é a falta última, o não-sentido, pano de fundo de toda existência. 
O filósofo defende ainda, de uma forma bastante interessante e, num certo sentido, avessa a uma dada perspectiva contemporânea, que a angústia é uma experiência que deve ser busca- da ativamente pelo homem sensível.
Martin Heidegger 8, filósofo existencialista alemão, reto- ma a temática da existência humana na acepção existencialista kierkegaardiana e a descreve fenomenologicamente, isto é, descreve suas estruturas significativas essenciais. Seguramente foi um dos grandes pensadores do século XX, quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da ontologia, quer pela importância que atribuiu ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Com sua inovadora leitura contribuirá, decisivamente, para elucidar questões filosóficas.

Comentários

A bíblia o livro que foi inspirado por Deus na perspectiva cristã também definiu o que significado de angustia. E Deus definiu como sendo tribulações e que este sentimento sempre retornaria e que a cura era orar pois Jesus, Deus feito homem, orou três vezes, e este fato servi de modelo a todo cristão: é necessário orar continuamente para vencer as atribulações, porque a angústia sempre retorna. "Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra". O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno  raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. O servo de Deus o rei Davi em momento de grande angustia diz: Alivia as tribulações do meu coração; tira-me das minhas angústias ( Salmo 27.17). No Cristianismo, a fé é a resposta para a angústia. Devemos lembrar que a angustia sentida por Jesus era um medo conhecido e tinha um propósito, ou seja, ele sabia do que ia acontecer e a suas orações ( sua conversa com pais ) foi para que tirasse dele aquele sofrimento. Davi, estava angustiado por que ia enfrenta um inimigo forte ele sabia quem ia enfrentar e a sua conversa com Deus ele  se fortificou. O profeta Isaias diz: Pelo que os meus lombos estão cheios de angústia; dores apoderaram-se de mim como as dores de mulher na hora do parto; estou tão atribulado que não posso ouvir, e tão desfalecido que não posso ver ( Isaias 21.3 ). 
O maior problema  na vida do homem, na atualidade,  é o medo do desconhecido, é aquele medo que que ele não sabe de onde vem. Para os Cristão este medo Deus também cura.

6 R.Q. Cobra Época, vida e pensamentos de Søren Aabye Kierkegaard Lançada em 24/01/2003 http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-kierkegaard-I.html 6
7 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 , p. 11
8 R.Q. Cobra Vida, época, filosofia e obras de Martin Heidegger,Lançado 24/01/2003,  http://www.cobra.pages.nom.br/fc-heidegger.html



3. Angustia na Medicina 

Angustia e a depressão são as respostas mai comum do homem às diversas pressões do mundo contemporâneo e ao mal-estar na atualidade. Quando se toma a idéia de angustia, especialmente numa vertente do filosofo Cícero, a da falta de tempo, a angustia Temporis, temos que concordar que o homem hoje é um ser angustiado por natureza. 
De fato, tem sido lugar – comum escutarmos queixas de pessoas que sofrem de angustia. Por sua vez, os meios de comunicação também veiculam, frequentemente, a presença desse mal contemporâneo utilizando a expressão como stress, síndrome de pânico, transtorno bipolar, etc. Mas, na realidade, a temática da angustia é, como vimos,  é tão antiga quanto a humanidade, e o que se verifica são diferentes interpretações para esse afeto em função da hegemonia de certos saberes sobre o ser humano presentes  na sociedade ao longo do tempo.
A medicina foi a primeira ciência humana, ou seja, a primeira que transformou , seu corpo, em objeto de investigação. Os manuais da história da medicina estabelecem que que a medicina evoluiu desde a medicina Clássica (pre-ciência) para a medicina cientifica. Michel Foucout, no entanto mostra que a pré-ciência e a ciência em cada época , cada cultura , cria o seu modo próprio de explicar o que é  doença  e o que é sofrimento humano, estabelecendo modos  próprios  de solucioná-los. 
O filosofo Michel Foucaut critica a perspectiva evolucionista, que acredita num aperfeiçoamento do saber cujo corólario seria o discurso Cientifico. Ele considera que, no que diz respeito ao ser humano, os mitos, a filosofia, a religião e o mesmo o saber do senso comum – tidos como saberes não científicos – carregam importantes verdades sobre o homem que não devem ser minimizados  em nome  de um saber  supostamente  melhor e mais desenvolvido, que seria o da  ciência. No final do século XVII inicio do século XVII a doença não é concebida como algo que vem de dentro do corpo, mas como um elemento da natureza e que deve ser tratado por medico. Mas, somente no século XVIII é que surgia a medicina cientifica e que para se desenvolver depende de ouras ciências, como por exemplo da biologia que permitiu um olhar mais profundo dos médicos, como afirma  Foucout. É neste interino é que a medicina pode atravessar o corpo humano em direção a sua interioridade, tornando visível o que outrora era invisível. 
No inicio do século XIX, a medicina cientifica se expandiu para o campo  social e até hoje é possível identificar um ponto de vista médico em quase todas as facetas  da existência. Tendo como base a perspectiva higienista, consolidou a medicina social. Assim, ampliou, na medicina, o poder do que bem e o do que mal  do ponto de vista individual e social. A medicina agora passa a intervir não só no indivíduo particularmente, mas também todos aqueles que freqüentavam as instituições hospitalares e consequentemente em toda tessitura do saber medico. A medicina psiquiátrica aos poucos se constituiu contraponto à medicina cientifica, face as dificuldade de localizar a origem da doença mental no corpo. Os médicos psiquiatras encontrou suporte na medicina clássica e adiaram a possibilidade de encontrar a origem das doenças psíquicas no celebro ou no orgânico de forma geral. 

Comentários

No relato acima, observamos que a medicina psiquiátrica nasceu tendo como base o modelo descritivo e classificatório oriundo da medicina clássica, e grande parte do esforço do discurso psiquiátrico em toda sua historia tem sido buscar  uma validação cientifica  que justifique  a inclusão da loucura sob jurisdição da medicina. A transformação da loucura em doença mental só ocorreu na Idade Modena, com o saber do medico psiquiátrico. Pautando-se na lógica classificatória da medicina clássica, a medicina psiquiátrica, encontrou no modelo da racionalidade psicológica os elementos necessário à distinção entre o normal e patológico e as bases para os tratamentos de cunho moralizante. O tratamento moral consistia num conjunto de estratégia que visava  fazer com que os loucos deixasse de ser loucos. O tratamento moral busca incidir nas causas morais, restituindo ao sujeito  o que era chamado de vontade regrada. Inúmeros praticas de  tratamentos  morais foram  utilizadas , desde  banhos frio da eletroterapia, como a única perspectiva de calar o sintoma, ou seja, a desrazão. Apesar da utilização  dessas praticas de cunho moralizante, não se pode negar, como afirma o psicanalista contemporâneo Philppe Julien, que a psiquiatria, ao adotar o conceito de doença mental, devolveu a humanidade aos loucos, pois passou a vê-los como portadores de uma doença e não como animais selvagens que precisavam ser encarcerados 9. 
Atualmente, os consultórios médicos psiquiátricos está olhando para o paciente que tem problemas psíquicos como uma doença que pode ser tratada e até mesmo curada em parceria com a psicologia e psicanálise. 

9 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 , p.22


4. Angustia na Psicanálise

Sigmund Freud ( 1925 ), em seu trabalho sobre “ As resistências à Psicanálise” fala acerca das dificuldades  de aceitação pelos médicos e filosofo da  recentes contribuição  da psicanálise ao estudo do psiquismo apesar de que em seus trabalhos, Freud situar a Psicanálise entre a medicina e a filosofia. Alguns médicos vêem a psicanálise como um sistema especulativo e se recusam a acreditar que, apesar de suas peculiaridades, essa disciplina, como toda ciência, se fundamenta numa paciente e incansável elaboração de fatos oriundo do mundo da percepção. No outro lado, medindo-a pelo padrão de seus próprios sistemas especulativos, os filósofos julgam-na na vinculada a premissa impossível que carecem de clareza e precisão, como , por exemplo, o conceito de inconsciente.
É de se esperar que surjam reações a Freud sobre as suas teorias inovadoras, pois está iniciando os primeiros indícios uma nova técnica de tratamento aos problemas de origem psíquicas mesmo Freud reconhecendo  a anterioridade lógica  da medicina e da filosofia, por ser Freud Medico Neurologista e sua conexão no campo filosófico. Reconhecer o valor de cada uma das disciplinas não impede a especificidade do campo psicanalítico, ao contrario é esta especificidade que permite explicar a angustia cuja temática é também objeto de estudo tanto da área medica como da filosofia.
No seu primeiro escrito sobre a clinica Freud, o afeto da angustia se articulava à discussão concernentes à neurose  de angustia, o que resultou a primeira teoria sobre o assunto. Nesta perspectiva, a noção de angustia aparece  atrelado a outro conceito central da psicanálise: a sexualidade. 

A neurose de angústia é um tipo de doença que Freud definiu como sendo uma neurose atual, caracterizada por um acúmulo de excitação sexual transformada em sintoma sem mediação psíquica. Entende-se por neurose atual aquela que resulta diretamente da ausência ou inadequação da satisfação sexual, diferindo das psiconeuroses cuja origem deve ser procurada nos conflitos infantis. Este tipo de neurose (de angústia), difere na etiologia e no tratamento da histeria de angústia, na qual a angústia se encontra especificamente vinculada a uma situação especial que representa o conflito neurótico.
No caso da neurose de angústia há uma tensão íntima, de caráter geral, manifestada sob a forma de uma angústia constante e oscilante, ou de uma produtividade de angústia. Freud menciona a etiologia de um modo específico cujos fatores mais comuns são a acumulação de tensão sexual e elaboração psíquica da excitação sexual ausente ou insuficiente, representada pela dominação desta, derivando no plano somático sob a forma da angústia.
Freud chamou esta síndrome de “neurose de angústia”( Freud, 1894 -Vol. III, pg. 111), pois todos os seus componentes mantém com a ansiedade uma relação definida, sendo este, um sintoma principal. Nesta doença há um predomínio da angústia, sem objeto privilegiado, sendo os fatores atuais manifestos.
O quadro clínico da neurose de angústia compreende vários sintomas, por exemplo:
Irritabilidade geral: há um aumento na irritabilidade causando grande excitação, podendo tornar-se incontrolável. Uma manifestação da irritabilidade é a “hiperestesia auditiva”, revelada freqüentemente como causa de angústia. 
Expectativa ansiosa: esta se dá na ansiedade normal de forma imperceptível, tendo o doente uma visão pessimista, reconhecendo esta como uma espécie de compulsão. Uma das formas da manifestação da expectativa ansiosa é a hipocondria, que requer como pré-condição o aparecimento de parestesias e sensações corporais aflitivas, a distribuição da libido para o hipocondríaco tem o mesmo efeito da doença orgânica. Este perde o interesse e a libido relacionados aos objetos do mundo externo e fixa ambos no órgão que lhe traz desconforto, Até aqui temos a primeira teoria freudiana da angustia em que ele considera sua emergência associada à idéia de uma libido transformada.
Sigmund Freud, pai da Psicanálise, continua seus estudos sobre o problema da angústia. Ele afirmou que vivemos um profundo mal-estar provocado pelo avanço do capitalismo. Neste ínterim, se faz mister observar o quão sucestível o Ocidente está às doenças próprias desse sistema econômico, tais como a esquizofrenia. Contudo, a mais eminente colaboração da Psicanálise para essa temática pode ser percebida na sua análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas fundamentais ao equilíbrio do ser: as vontades (Id) vivem em constante atrito com o instinto repressor (Superego). O balanço entre as vontades e as repressões tem que ser buscado pelo Ego, a consciência. É o Ego que analisa a possibilidade real de por em prática uma ação desejada pelo Id.  Não obstante, controla o excessivo rigor imposto pelo Superego.  A esse conflito entre o Id e o Superego, Freud denominou angústia. “Cabe ao Ego, portanto, a busca de um equilíbrio entre estas partes do psíquico e, não obstante, entre o sujeito e o todo social."

No texto “Inibições, sintomas e angustia”( Freud, 1926), Freud apresenta a angustia articulada à idéia de desamparo, condição primária do ser humano, é um estado afetivo com um caráter acentuado de desprazer  que é liberado, seja automaticamente ( na vivencia traumática ), seja como um sinal que possibilita ao eu uma espécie  de preparo cuja função é evitar o reviver  da situação  ou do desamparo original.

Comentários

A Psicanálise olha para uma pessoa que está com um sintoma ( distúrbio psíquico ) como se ela não tivesse conhecimento de sua origem, de si mesma e das causas que a gerou o sintoma. A Psicanálise, utiliza técnicas que possibilitam a pessoa a saber encontrar respostas e ressignificação do problema, ou seja, nova maneira de pensar, de sentir e de agir sobre ela possibilitará a ela conviver com o problema sem afetar a convivência com a sociedade e consigo mesmo. Pode-se dizer que o tratamento psicanalítico consiste, em ultima instancia, em um processo de descoberta  da medida de cada um. Ela nos ensina que o sintoma é algo paradoxal, uma verdadeira formação de compromisso entre o desejo e a defesa; e implica aquilo que Freud denominou de ganho secundário. 
A Psicanálise buscar reinventar a vida, a pessoa passa ser um criador da própria vida. Neste sentido, a experiência psicanalítica  conduz o sujeito a ir o mais longe possível na construção de algo novo, apesar das determinações inconscientes. 

Pessoas que apresentam o quadro de angústia sem acompanhamento profissional, desenvolvem outros distúrbios emocionais, tais como cansaço físico-mental, abaixamento da auto-estima e comportamentos inadequados. 



5. Angústias na educação 


O mundo atual vive mergulhado num caos de problemas e angústias em consequência das mudanças pelas quais passou nestes últimos tempos, como podemos citar: a revolução tecnológica, a exacerbação religiosa, as mudanças na ordem mundial (como a queda do muro de Berlim, por exemplo), a globalização, entre outros. Tudo isso traz uma grande repercussão para a vida do homem, em todos os setores, inclusive (e talvez principalmente) na educação; consequentemente, isto não tinha como deixar de repercutir na vida dos docentes, já que estes trabalham com a vida humana, com a “produção de sentidos”, com o subjetivismo; o professor está intrinsecamente ligado às coisas do mundo, aos acontecimentos que ocorrem ao seu redor.

Angústias e interrogações “sacodem” o mundo individual do educador atual, que tem uma série de fatores e coisas que funcionam como seus rivais nessa “exaustiva” profissão. Essas angústias são naturalmente normais na vida do professor da atualidade, ou da maioria deles. No tempo atual, um professor que não tenha um nível razoável de angústia em relação à sua atividade, que não se sinta desacomodado, com certeza não é um professor do tempo atual.

Neste contexto, fica registrado que nem sempre o professor atual se angustia com os acontecimentos do mundo, esse mundo que está vivendo grandes, velozes e profundas transformações. Mas a sociedade dita moderna está em crise. Por isso, é necessário que o professor repense continuamente  o seu papel, assuma-se enquanto profissional da educação, enquanto   profissional humano, social e político, tomando partido, ousando, não se omitindo, engajando-se social e politicamente, sendo não apenas um mediador do conhecimento, mas possibilitando transformações nas estruturas opressoras dessa sociedade classicista em que vivemos.
Entretanto, o professor é um profissional que vem contínua e lentamente sendo desvalorizado e, provavelmente, essa desvalorização está agindo como fator negativo para a vida docente, desestimulando esses profissionais; além disso, estes recebem os piores salários, se formos pensar na relevância dessa profissão. É claro que um erro não justifica o outro, que este fato não pode levar o professor a agir de forma errada em relação ao seu trabalho, principalmente por estar voltado à vida humana, mas um docente é também um ser humano; não é um deus, precisa viver; não é uma enciclopédia, precisa estudar; não é de ferro, precisa de descanso; é de carne e osso, pode adoecer; é humano, por isso pode falhar, e tem necessidades (físicas, sociais, psicológicas, afetivas...). Desvalorizado e à margem, o professor se desencanta com a profissão e, em sua maioria, esses educadores desencantados são também maus profissionais que “alinhavam” o processo de ensino-aprendizagem.
Levando em conta que cada um deve se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal, cabe ao professor, enquanto profissional de educação, independente dos percalços da profissão, realizar os objetivos que esta profissão exige. Para isso, entretanto, faz-se necessário que o próprio professor internalize “sua missão”, faça uma viagem interior e reflita sobre seu papel social e político, sobre sua importância (mesmo que não reconhecida) para a sociedade. É preciso que o professor ainda acredite que é pela educação que o mundo pode melhorar. A escola ainda é o maior veículo transmissor do conhecimento, mesmo com tantos outros que circulam neste novo tempo, um tempo tecnológico.

O ser humano tem que estar preparado para acompanhar a evolução do tempo, as inovações do mundo e é através da escola que ele irá se preparar tanto para seu crescimento pessoal quanto profissional. Se a educação tem papel relevante no desenvolvimento do indivíduo e das sociedades, o professor é o elemento mediador desse desenvolvimento, tendo papel determinante na formação de atitudes, despertando no aluno a curiosidade e estimulando o intelectualismo, bem como desenvolvendo a autonomia para criar as necessárias condições de sucesso da educação formal.

A escola é um portal do conhecimento. Mas enquanto a educação não for realmente prioridade neste país, não será possível acontecer melhorias nem desenvolvimento. Professor desmotivado e desencantado com a educação não tem possibilidade de ser um bom profissional, portanto, alija o próprio ofício e o processo de buscar e levar o conhecimento. Espremido pelas diversos fatores que o leva à necessidade de atualização permanente, o professor busca meios para redefinir o seu fazer educacional.

Exige-se competência e profissionalismo do professor, fazendo recair sobre ele a grande responsabilidade sobre a educação de qualidade, no entanto, este já traz em si mesmo os graves problemas sociais porque passa ele mesmo e a sociedade, então como poderá resolvê-los na sala de aula? Uma sala de aula onde tantos alunos chegam vindos também de graves problemas sociais como a fome, a pobreza, a violência, as drogas, a família desajustada, a falta de saúde, entre outros; por outro lado, tem alunos que tem excesso de bens materiais e de liberdade, de mimos, de oportunidades. Como equilibrar tantas tensões sociais? O professor é capaz de levar esses alunos a enfrentar seus problemas e, ainda, fazê-lo apreender os conhecimentos planejados?

Neste contexto, é relevante que os governantes revejam seu olhar sobre a educação e, consequentemente, sobre os profissionais de educação. É preciso resgatar o valor do docente enquanto profissional para que este possa encontrar sua identidade. Para isto, é preciso também que este se sinta seguro quanto a importância do seu papel social e profissional. O professor não deve temer sair à luta pela valorização do seu espaço, pois é através da luta pela dignidade, pela cidadania, pela igualdade de direitos, pela ética no convívio social e na política que poderá aprender a importância da formação de sua identidade.

A educação, direito de todos, deve acontecer através de pessoas seguras de seu ofício, do seu valor pessoal e profissional, bem como capazes de entender, ou pelo menos saber gerenciar, as tensões que ocorrem no mundo; a prática educacional deve acontecer de forma natural, sem opressão, pois como diz Sócrates, quem é livre não deve aprender ciência alguma como uma escravatura. E que os esforços físicos, praticados à força, não causam mal algum ao corpo, ao passo que na alma não permanece nada que tenha entrado pela violência. Portanto, A educação deve ocorrer de forma natural e prazerosa.

Discutir sobre o papel do professor acaba nos fazendo enveredar por caminhos diversos, já que a educação está em todo lugar, mas fazê-lo é necessário. Acreditar em mudanças melhores e mais eficazes para esta instancia e para a vida dos profissionais que nela estão inseridos é uma necessidade, pois não se pode deixar levar pela insegurança, pela desesperança. Esperar numa vida melhor, cuidar para que isto aconteça é tarefa de todos, pais e professores, alunos, sociedade, governantes, todos juntos em busca de um bem comum, de certezas, de vitórias, este é o cenário que se deve montar. Em unidade, todos conseguiremos fazer o melhor, mas com os pés no chão, sem utopias, usando as tensões e angústias, os desencontros, as carências, a insegurança e o medo, como motivos impulsionadores dessa luta de todos nós por uma educação de qualidade.



6. Conclusão

" sinto uma coisa aqui dentro de mim......, Tenho medo de uma tragédia.... Não sei qual, mas sinto.....de vez enquanto tenho uma apreensão no peito, uma expectativa que algo de ruim vai acontecer....."

As frases frases transcritas acima, ouvidas na clínica particular, publicas e em igrejas indicam a presença inexorável de um sofrimento que invade a mente do sujeito. Isto é angústia e é real. Ela leva muitas pessoas a procurar ajuda médica, psicologia ou psicanalíticas. A necessidade das pessoas a buscar com urgências a entender e curar este.sintoma é real e crescente. 
A angustia inspirou, filosofo, médicos, psicólogos, psicanalista e educadores a descrever e interpretar este sintoma. Será que é um sintoma? Ou será um caso clinico? Ou será um tema filosófico?  Ou a fé é suficiente no seu processo de cura? Acredito que continuamente está sendo mais e mais  explorado por cada instituição acima representada. 



Bibliografia

Freud, Sigmund , Vol. III, pg. 111, Obras Completas de Freud.
_____. As resistência à psicanálise, in ESB, Vol.XIX, 1925
_____. Aangustia, in ESB das Obras Psicologica Completas, Vol. XVI, 1917
_____. Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angustia, in ESB das Obras Psicologica Completas, Vol.III, 1894.
Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011
Silva, Marcos Aurélio, Quem ama não adoece, Ed, Best Seller, 30 Edição, SP,   2002
R.Q. Cobra, Vida, época, filosofia e obras de Jean Paul Sartre, Lançada em 24/01/2003, http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-sartre-I.html
R.Q. Cobra Doutor, Existencialismo, Lançada em 24/01/2003   http://www.cobra.pages.nom.br/ftm-existencial.html 
Rita Josélia da Capela Pinheiro , O Homem, a Angústia e sua Existência,  http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/rita.htm
R.Q. Cobra . Época, vida e obras de Arthur Schopenhauer, Lançada em 24/01/2003 http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-schopenhauer-II.html
R.Q. Cobra Época, vida e pensamentos de Søren Aabye Kierkegaard Lançada em 24/01/2003 http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-kierkegaard-I.html
Wikipédia, a enciclopédia livre. ngústia,http://pt.wikipedia.org/wiki/Ang%C3%BAstia

R.Q. Cobra Vida, época, filosofia e obras de Martin Heidegger,Lançado 24/01/2003,  http://www.cobra.pages.nom.br/fc-heidegger.html

Classificação de transtornos mentais e de comportamento da classificação Estatistica Internacional de Doenças( CID -10 ) – Descrição Clinica e Diretrizes Diagnosticas. Organização Mundial de Saude (OMS ). Genebra /Porto Alegre, 1997.

Pinel, Philepe. Tratado medico-filosofico sobre a alienação mental e a mania. Porto Alegre, UFRGS, 2007.

Manual Diagnostico e Estatistica  de Transtorno Mentais DSM-IV. American Psychiatric Association. Porto Alegre, Artmed, 1994.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

CONSUMISMO - DESEJO, NECESSIDADE OU DOENÇA?


Consumir: desejo ou necessidade?

Na vida, há coisas que são necessidades básicas. Sem elas não tem como viver. Por exemplo: comer, beber, vestir, dormir... é aceitável dizer também que existam outras necessidades que poderíamos chamar de secundárias, como ter um automóvel, um computador, um televisor etc. Outras coisas ainda podem ser consideradas supérfluas.

O que para uns é desprezível, sem valor e desnecessário, para outros pode se tornar uma necessidade de primeira grandeza. Mas o que é que faz das mesmas coisas objetos com valores distintos? Aí entra um elemento fundamental, que é o desejo. Sem ele, aliás não se vive. Fomos feitos seres desejosos e desejantes. Quem vive é porque assim deseja, muito embora nem sempre deseje viver tal como vive.


Seu Consumo é um meio de felicidade?  Está  incontrolável?


Efetivamente, entre os maiores desejos de todo ser humano está o de ser feliz. Como sê-lo, enfim? Certo é que não há fórmula, modelo ou padrão. A felicidade é uma busca. Nesse sentido há inúmeros caminhos. Convém ressaltar que o sistema sob o qual vivemos aponta um único caminho e recomenda que para ser feliz é preciso consumir. Assim, o desejo fica condicionado a um conjunto de necessidades que vão sendo criadas e estimuladas no público consumidor.
Consumir virou um dilema pontiagudo e uma obsessão incontrolável dos tempos modernos. Por um lado, estamos certos de que está errado que uma multidão não tenha condições para adquirir os produtos de necessidade básica. É isso se deve à contradição que dá sustentação ao capitalismo globalizado. De outra parte, há uma ordem que parece vir de todos os quadrantes do mundo e que estimula o consumo para além das necessidades.
O caso ocorrido com meu amigo parece ilustrativo para o momento. Depois de o filho pedir-lhe dinheiro de maneira insistente, o pai pergunta: “O que mesmo você está precisando? Diga-me que passarei no shoping para comprar!”
Diante da determinação do pai, o filho foi categórico: “Não sei o que preciso, mas quando eu chegar lá no shopping, saberei”. Ele tinha desejo de fazer suscitar dentro de si alguma necessidade para poder consumir a fim de, segundo a lei do mercado, ser feliz.

Tem cura? Educar os desejos é a solução?

 Se cedermos a todas as tentações do desejo, em breve não haverá mais condições reais para satisfazer as necessidades elementares de toda humanidade. Trata-se de pensar o que, quando e como estamos consumindo. Junto com isso, faz-se necessária uma educação permanente do desejo. Monitorar o desejo é uma tarefa de todos e em todos os lugares. O vírus do consumismo está dentro de nós e muito dificilmente alguém está imune a ele.
É salutar averiguar quantas coisas passam pelo nosso desejo todos os dias e que não são necessidades vitais. E, de outra parte, quantas necessidades básicas de muitos passam a ser direito negado por causa do projeto privativo de poucos. Educar o desejo é prolongado, pois muitas vezes pode ser um problema cultura o social. Pode-se educá-lo para consumir o que o mercado nos vende como necessidade e como produto de felicidade. Desejar para além do desejo do consumo, ou seja, pretender um novo paradigma, como ética, justiça e responsabilidade é o grande desafio.
 Se não reeducarmos nossos desejos e orientações pessoais e sociais, não teremos mais possibilidade de viver juntos por muito tempo. O nosso dilema se mostra cada vez mais sério: preservar ou continuar dilapidando os recursos naturais e a casa comum? Como seres coletivos que somos, temos o direito de consumir segundo as nossas necessidades, mas não podemos transformar todos os desejos emergentes em necessidades!

Você é um consumista para ter Reconhecimento Social?

O consumo é uma forma de reconhecimento. Não é a questão ética ou as relações humanas que valem mais. O que a pessoa porta ,como imagem, é o que vale mais, do ponto de vista das relações sociais de hoje. O não- consumismo é como uma não-cidadania. O consumismo começa e termina na adolescência.  A adolescência está nesse percurso de formação de identidade, que faz com que a pessoa busque referências para poder se colocar diferentemente dos outros, mas, ao mesmo tempo,incluído perante os outros. A mídia, os produtos, oferecem ganchos para poder se colocar socialmente. As marcas, os hábitos, os esportes, o tipo físico dizem respeito a encontrar algumas categorias, algumas formas de estar no mundo. Se pensarmos nas propagandas, os que aparecem, de modo geral, são os jovens. É o público que tem mais adesão para esse tipo de produto.
A médio prazo, as pessoas estão desgastando, do ponto de vista psicológico, sofrendo com esse empenho tão grande em relação ao consumo. E pagam um preço alto por serem consumistas. Mas muitas delas se satisfazem com esse tipo de vida; há um ganho imediato bastante claro. As pessoas se apropriam dos produtos, pois eles contemplam, pelo menos em um primeiro momento, uma certa satisfação. Só que isso é fugaz, dura um tempo bastante curto que não dá conta da vida da pessoa. É o ato repetitivo de estar comprando. Assim que o objeto é adquirido, já queremos outro. Isso se dá pela sensação de que uma vez conquistado, já é preciso ter outro para se ter a mesma satisfação Posicionamento
O consumo não valoriza essencialmente o sujeito; a questão é como Ele lida com o consumo. Nesse sentido, lembramos que uma das grandes saídas para as pessoas enfrentarem uma frustração, ou um isolamento social, é o consumo. O problema que se vê nisso é ter o consumo como a principal saída. Há uma série de infelicidades e contradições que o sujeito encontra. Na verdade, a vida tem seus enigmas, e lida com eles talvez seja mais interessante do que minimiza-los ou negligenciá-los.
Não devemos nos defender dessa lógica consumista, mas reconhece-la e nos posicionarmos em relação a ela. A saída, então, é ser um pouco mais responsável em relação a isso. Não tornar essa angústia( que é do dia-dia, de que a gente ter certeza em relação à vida, ao trabalho, aos afetos) em algo que tem que ser esvaziado a qualquer custo.Podemos usá-la como uma oportunidade de repensar a própria vida, resolver isso de outra maneira, participar mais da resolução de suas próprias questões.
O interessante é buscar novas formas de relação social que não sejam somente através do juízo que se faz uns dos outros em relação à aquisição de mercadorias, à capacidade de se identificar através delas. É muito claro o quanto nós podemos fazer algumas separações entre as pessoas só pela imagem. E isso é completamente ilusório.
Então, se pudermos nos aventurar mais no contato com os outros, não priorizando os valores externos, será mais interessante. Valorizar o laço ao invés de buscar, através de produtos, reconhecer se as pessoas valem a pena.
Muitos casamentos são desfeitos por causa de mal, que a sociedade contemporânea diz ser necessário!

Consumismo é uma questão cultural, mas pode deixar Você doente!

A sociedade nem sempre se relacionou com os bens, com os produtos, da mesma forma como se relaciona hoje. Se pensarmos que a maior parte dos eletrodomésticos e eletrônicos chegou até nós a partir da década de 1940, vemos que é algo muito recente.
As pessoas hoje têm uma infinidade de opções para uma parcela da população. Isso nos leva a pensar que o consumo é uma questão cultural por dois fatores: um aspecto histórico, pois é algo recente; e um aspecto social, porque nem todos partilham dessa mesma experiência, nem todos têm essa diversidade de opções para poder consumir.
A idéia que se têm é que consumir é algo vital, necessário. Poder ascender profissionalmente é exatamente poder mudar seu poder aquisitivo. As pessoas, de maneira geral, não se colocam nessa perspectiva crítica em relação ao consumo. Muito pelo contrário, na maior parte das vezes, inclusive, investem uma certa dedicação, esforço, para poder chegar mais perto da possibilidade de consumir.



                             Jose Valter Rodrigues Lima
Psicanalista Clinico e Mestre Psicanalise Aplicada à Saúde e a Educação

sábado, 11 de outubro de 2014

DEPÊDENCIA PSICÓLOGICA - Você precisa de aprovação?

 Você precisa de aprovação? 

Você tem dificuldades de mudar de posição, ou alterar sua crença porque alguém dá sinais de reprovação?
Você bajula, para fazer com que alguém goste de você?
Você sente seu humor cair ou ansiedade quando alguém discorda de você?
Você se sente insultado ou arrasado quando alguém manifesta um sentimento contrario ao seu?y
Você sente dificuldade de expressar uma opinião diferente com alguém que está perto? 
Você costuma fingir que concorda com os outros, mesmo que não o faça? 
Você muitas vezes precisa de ajuda para começar um projeto?
Você já se voluntariou para fazer coisas desagradáveis ​​para os outros para que eles pudessem cuidar de você quando você precisasse deles?
Você diz coisa que não pensa só para evitar que não gostem de você?
Você está desconfortável ao estar sozinho(a)? 
Você tem medo de que não seja capaz de cuidar de si mesmo?
Você sofre quando pensa acabar um relacionamento e entrar em outro novo relacionamento? 
Você se preocupa com as pessoas sobre o importante em sua vida, esquecendo de si mesmo?
Você quando esta em um restaurante o bife que não esta do jeito que você não goste, você não reclama porque o garçon não vai gostar?
Você se senti intimidado com um vendedor habil e compra alguma coisa que não quer, ou recear trocar depois por que o vendedor vai lhe criticar?
Você pede discupa por tudo? 

Se você responder sim, a algumas destas questões, então você pode está predisposto(a) a uma dependência psicológica, e como consequência, no dia a dia de sua vida, você terá comportamento de quem precisará  de aprovação! E de ajuda também. Pode ser tratado? 

        Precisar de aprovação equivale a dizer:  "Sua opinião sobre Mim é mais importante do que a minha",  são indivíduos que se dedicam a agradar mais aos outros do que a si mesmo. É possível que você gaste grande parte de sua vida esforçando-se para ter aprovação dos outros, principalmente dos nosso cônjuges, país e amigos, ou preocupando-se com o fato de ter sido desaprovado. Se a aprovação se tornou uma necessidade em sua vida, então você tem uma tarefa a enfrentar. Comece compreendendo que a busca pela aprovação deve ser mais um desespero do que uma necessidade.  Todos nós apreciamos o aplauso, cumprimentos e elogios; faz bem receber carícias psicológicas. Quem haveria de querer abrir  mão dessas caricias.Ora, em si mesma, a aprovação não é algo negativo - adulação, de fato, constitui  um grande prazer e pode ajudar na autoestima. A busca da aprovação se transforma em um ponto fraco, em você, apenas quando passa a ser uma necessidade em vez de um desejo.  
        Se você deseja aprovação, o fato de receber o endosso de uma outra pessoa o deixará simplesmente muito feliz. Mas se necessita de aprovação, desabará caso não consiga. É quando entram em cena as forças autodestrutiva. Quando a busca de aprovação se transforma numa necessidade, você entrega uma parte de si mesmo a outra pessoa, de cujo amparo precisa. Se os outros o desaprovam( país, amigos, cônjuges ), você fica paralisado; nessa situação, você escolhe esconder sua autoestima, esperando, que outra pessoa decida  provocá-lo ou não, conforme preferir.  Você só se sentirá bem consigo mesmo se os outros resolvem dedicar-lhe elogios. Esta dependência é auto destrutiva? 
       Necessitar da aprovação de uma outra pessoa já é bastante ruim, mas o verdadeiro problema começa com a necessidade da aprovação de todos, para tudo que faz. Se você arca com esse tipo de necessidade, então está condenado a encontrar grande dose de infortúnio e frustração na vida. Além disso, estará incorporando uma auto imagem despersonalizada, artificial, que resultará no tipo de auto - rejeição. É preciso eliminar esta necessidade de aprovação? 
       É sim, não há dúvidas sobre a eliminação desta necessidade de aprovação. Trata-se de algo que deve ser erradicado de sua vida para que você atinja a realização pessoal. Tal necessidade representa um beco sem saída psicológico, que não lhe traz qualquer benefício. 
       É impossível passar pela vida sem incorrer em grandes doses de desaprovação; assim caminha a humanidade, são impostos que pagamos, algo que não se evita. Em certas ocasião, uma pessoa, me procurou para compreender as razões do seu descontrole emocional com as pessoa que convivia e que já estava tendo problema de relacionamento, inclusive afastamentos das pessoas.  Durante o processo de análise, identificamos que ele apresentava indícios de uma mentalidade típica que necessitava de aprovação. Sempre que ele encontrava desprezo, ele se descontrolava: muitas vezes dedicava grande parte de sua energia à obtenção da aprovação de todos para tudo o que fazia e dizia. Relatou-me um incidente envolvendo o sogro, quando afirmara defender firmemente o divórcio e a pratica do aborto,  neste momento notara que o sogro  franzia a testa e se ausentava do local da discursão, num gesto de desacordo, ele modificou sua posição: dizendo o que queria dizer era que, no divórcio tinha que  observar a traição e o que aborto a violência sexual / estupros e que nestes casos é possível discutir. Percebendo que seu sogro concordava com a nova justificativa, segundo ele respirou aliviado. Este mesmo assunto é discutido em seu trabalho, e ele relata que o seu chefe discorda eloquentemente a sua posição a cerca do divórcio, recriminando que é impossível viver sem amor e que o divórcio é uma oportunidade de você buscar a felicidade, nós merecemos ser feliz! Diz o chefe ainda ao meu analisando, não se vive apenas de aliança.  Este por sua vez para não contrariar o seu chefe modifica a posição relatada, explicando que a posição levantada  é do meu sogro e que comentou que concordava com o chefe, imediatamente ele alivia a sua tensão, pois ele acrescentou algo mais, que fez com  o seu chefe aceitasse as justificativas. Meu paciente, não tem caminho próprio, a sua necessidade de aprovação é tão marcante que ele vive mudando de opinião para ser aceito. O meu paciente basicamente não existe, mas apenas as reações casuais dos outros, determinam não somente o que ele sente, mas também o que ele pensa e diz. Meu paciente é qualquer coisa que queiram que ele seja. Se você é uma pessoa que muda de opinião para satisfazer o seu cônjuge, seu amigo(a), país  até numa escolha de um prato em um restaurante, você estar começando a não existir. 
       Quando a procura da aprovação se torna uma necessidade, desaparece completamente as possibilidades de verdades. Se você precisa de elogios e emite esse tipo de sinais, então ninguém  consegue agir direito com você. Nem você é capaz de expressar, com confiança, aquilo que pensa e sente, em momento algum de sua vida. Seu eu é sacrificado em detrimento das opiniões e predileções dos seus amigos, país, irmãos, ou seja, dos outros.
      Como na classe política, eles ( políticos) em geral não merecem confiança. Eles não têm desejos de aprovação, mas necessidade! A necessidade que têm de aprovação é prodigiosa. Sem essa aprovação, fica sem trabalho. Em consequência, muitas vezes parece falar pelos canto da boca, dizendo isto para agradar  a  A e aquilo para agradar a B. Não pode haver verdade quando a pessoa que fala é instável e move-se em torno dos assuntos numa espécie de manobra habilidosa, que pretende agradar a todos. Esse tipo de comportamento é fácil de identificar nos políticos, mas é mais difícil  de vermos em nós mesmos. Talvez você "doure a pílula", para acalmar alguém, ou se veja concordando com determinada pessoa cujo desfavor você tem. Você sabia que se sentiria infeliz se fosse censurado, de modo que modificou seu comportamento para evitar isso.
       É duro enfrentar a censura e mais fácil adotar um comportamento que traga a aprovação. Mas quando você escolhe esse caminho fácil, está tomando as opiniões dos outros a seu respeito mais importantes do que os seus autojugamentos. É uma armadilha perigosa - e difícil de evitar, em nossa sociedade.
          Para escapar a essa armadilha da busca por aprovação, que dá às opiniões dos outros o controle sobre você, é importante exatamente conhecer os fatores que estimulam essa necessidade. A seguir citamos alguns dos fatores que pode contribuir para este comportamento: 1. Antecedente histórico da necessidade de aprovação; 2. Primeira mensagem de busca por aprovação na família; 3. Mensagem de busca de aprovação na escola; 4.  Mensagens de busca de aprovação oriunda de outras instituição( Ex. igrejas). No processo psicoterapeutico de uma pessoa com dependência psicológica  devemos:
Desenvolver nele a autonomia e a assertividade para se defender de abusos, sugerir junto ao processo analítico um acompanhamento psiquiátrico quando ele(a) apresentar um quadro depressivo ou de ansiedade.
         Durante a análise, investiga-se as causas do medo de ficar sozinho e ensinar assertividade e outras habilidade sociais e ocupacionais úteis. Não é necessário contrariar a personalidade e natureza do indivíduo. Seus comportamentos e principais virtudes deverão ser estimulados de uma forma mais saudável, dentre eles a: Capacidade de assumir compromissos; Prazer na intimidade;Habilidades de trabalhar em equipe, sem necessidade de competir com o líder;Disposição para buscar as opiniões e conselhos dos outros;Capacidade de promover a harmonia nas relações com outros; Consideração pelos outros; e, Vontade de se auto-corrigir em resposta às críticas.
Mas é importante estimular a pessoa a expressar melhor sua opinião, desejos e necessidades de modo assertivo e estimular o comportamento de pedir ajuda para evitar que ela sofra violência e abusos.

Referência 
1. Organização Mundial de Saúde (2008) Classificação Internacional de Doenças 10a edição. http://
2. Zimmerman, 1994, pp. 118–119
3. DSM-IV, 1994, p. 665
4. transtorno de personalidade dependente
  - http://www.mentalhealth.com/home/dx/dependentpersonality.html

          Jose Valter Rodrigues Lima
Psicanalísta Clínico e Mestre em Psicanálise Aplicada  à Educação e Saúde 




sábado, 4 de outubro de 2014

PAI DEVE SER PAI OU O MELHOR AMIGO

Pai tem que ser pai e não o melhor amigo do filho

Os dias dos pais está próximo, as lojas, semanas antes do dia comemorativo já colocam as propagandas que apelam para a figura do paizão amigo. Ele veste as mesmas roupas do filho, ouve as mesmas música, sai para os mesmo lugares. Mas, na realidade, para ser um bom pai, é preciso fugir desse exemplo do mundo da fantasia.
“Pai é pai, amigo é amigo. Amigos a gente encontra fora de casa. Pai não. E se a gente não tem um pai dentro de casa, onde mais vamos ter?”, analisa a psicóloga e mestre em Psicologia Social pela USP, Angelita Corrêa Scárdua.
O problema está nos pais que querem ser modernos e ficam perdidos na hora de fazer valer a autoridade paterna. “O amigo não cobra, não exige. O pai precisa fazer isso”. “O pai que bebe com o filho no bar e sai com ele de carro, como um amigo, está sendo um péssimo exemplo”.
Nunca tente forçar uma relação de cumplicidade igual à que os filhos têm com os melhores amigos.Pais vocês podem ter outro escorregão. Segundo a psicólogia, se tornar adulto é ter um universo particular. “Esse universo nos desafia emocionalmente e precisamos aprender a gerenciá-lo sozinhos”. Claro que os pais devem ter um diálogo aberto com os filhos e orientá-los, mas sem fazer de cada conversa um confessionário.
“Há quem se sinta inseguro com estas exigências e se pergunte qual pai deve ser, afinal. Ser um ‘pai durão’ parece incompatível com o ‘paizão amigo’, mas não é”, tranqüiliza a terapeuta familiar Maria Aparecida Crepaldi, que estudou a participação do pai nas famílias modernas.
Segundo ela, ambos os tipos de pai são necessários e muito bem-vindos para os filhos. O “pai durão” não precisa ser autoritário, mas deve preservar sua autoridade, porque as crianças precisam de limites para aprender a conviver socialmente.
“Não precisa ser um limite coercitivo e violento, mas consistente. Mesmos as crianças muito pequenas estão abertas e são capazes de, à sua maneira, ter uma boa conversa”.
O “pai” é aquele que brinca e que está presente nas horas que o filho precisa de apoio e incentivo. Estudos mostram que a brincadeira com o pai ajuda na modulação da agressividade da criança e na abertura do filho para o mundo.
Não seja “amigos” do seu filho… seja PAI!
Os pais permissivos são os pais “amiguinhos”: esses pais oferecem poucas regras e limites, dão muito afeto e se envolvem bastante na vida dos filhos. Representam 15% dos pais, sentem-se frequentemente sobrecarregados e, assim, cedem com facilidade aos pedidos e chantagens.
É muito mais fácil ser amigo, aceitar tudo, rir de tudo e minimizar as consequências de certos atos, dizendo que “tudo é normal”, que tudo que se faz de errado “é coisa de adolescente”. É mais fácil passar a mão na cabeça dos filhos do que ser pai ou mãe de verdade. Alguns pais dizem: você foi jovem já fez a mesma desfeita com seus pais, compreenda! Errado! Não é porque erramos com os nossos pais vamos aceitar grosserias e desrespeito.
Aqui temos de pensar no significado das palavras “fácil” e “difícil”. A ideia de que “ser amigo é mais fácil” serve a quem? Ao pai, à mãe. Afinal, com essa postura, praticamente cessa o estresse deles, cessam as cobranças, as broncas, a necessidade de orientação e presença.
Os pais devem pensar nas consequências dos sins e nãos, de estarem presentes ou de se ausentarem, de serem pais de verdade ou escolherem ser apenas amiguinhos. Na dúvida, é melhor ser pai e mãe do que amigo, pois estes os filhos têm aos montes na escola.


                                 Jose Valter Rodrigues Lima
Psicanalista Clinico e Mestre Psicanalise Aplicada á Saude e a Educação

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

MECANISMO DE DEFESA

Na estrutura psíquica, o ego surge em resposta às frustrações e exigências que o mundo externo impõe ao organismo . À medida que se desenvolve, aprende a obedecer o princípio da realidade, enquanto que o id persiste seguindo o princípio do prazer. Obviamente,então, haverá conflito entre o ego e o id. O superego incorporou-se ao ego como um controle automático devido às exigências impostas pelo meio. Entretanto, o próprio meio pode ser fonte de tentações para os impulsos do id e haverá então um conflito entre o ego e o superego.
       Em vista disto, desenvolvem-se os mecanismos de defesa destinados a proteger a pessoa contra impulsos ou afetos que possam ocasionar aqueles conflitos, os quais são fontes de angustia. A angustia é a reação do ego diante da percepção inconsciente de qualquer ameaça`a sua integridade e se traduz por sintomas e sinais equivalentes a uma reação intensa de medo, porém sem objeto aparente. As ameaças podem provir da própria natureza e intensidade do impulso, do sentimento de culpa frente ao superego se houver satisfação do impulso,do sentimento de inferioridade se o impulso não for satisfeito e do receio da crítica social se o indivíduo não rejeitar as próprias tendências.
       Os mecanismos de defesa têm funções protetoras e alguns deles são empregados por todos, na vida cotidiana, para conseguir  a estabilidade emocional. Podem ser usados para auxiliar na integração da personalidade, apoiando-a na adaptação ao meio e nas relações interpessoais. Entretanto, seu uso pode ser feito de forma inadequada ou mesmo destrutiva, tornando-os em si mesmos, ameaças para o bom funcionamento do ego, levando ao aparecimento de distúrbios psicológicos.
       A literatura refere mais de trinta mecanismos de defesa, na sua grande maioria inconscientes. A seguir serão considerados os principais:

       Compensação É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo, inconscientemente, procura compensar uma deficiência real ou imaginária. Exemplo: Um homem com um defeito físico pelo qual sente-se inferiorizado perante aos demais, despende grande esforço para desenvolver sua capacidade intelectual e chega a ser uma pessoa famosa. Não tem consciência  de que o prestígio alcançado teve como motivação seus sentimentos de inferioridade.
       Deslocamento Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento é inconscientemente deslocado de um objeto original para um objeto substituto. O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais da neurose conhecida como fobia e o exemplo clássico é o pequeno Hans, tratado por Freud. O menino não podendo aceitar conscientemente a intolerável idéia de odiar seu querido pai, procurou resolver o conflito entre amor e ódio, deslocando os sentimentos negativos para os cavalos. Os impulsos agressivos e os temores de respostas de morte, originalmente dirigidas ao pai, passaram para aqueles animais. Por isso Hans os temia, a ponto de não mais sair de casa para não vir a encontrá-los.
        Deslocamento: é quando um sentimento ou impulso é transferido de uma parte para um todo e vice-versa. Ex: quando a mulher tem uma experiência ruim com um homem e diz que todos os homens não prestam. Quando escolhemos uma pessoa amada com a característica original dos nossos pais. [fetiches]. Quando uma pessoa que foi abusada desloca o medo do agressor para uma fobia de uma figura inicialmente inofensiva (palhaço). [leia mais]

       Através do deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que resultaria da consciência da real origem  de um problema. Seus efeitos podem vir a tona, mas o motivo original é disfarçado.
Fantasia   É um conjunto de idéias ou imagens mentais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. As fantasias conscientes, muito comuns na adolescência são também chamadas de sonhos diurnos. Em qualquer pessoa, as fantasias podem atuar como um saudável mecanismo de adaptação à realidade externa sempre que a obtenção de determinados desejos são impossíveis de satisfação imediata. Por exemplo, um estudante que sente seus professores demasiadamente austeros e exigentes, imagina-se como um futuro professor que tem para com seus alunos atitudes indulgentes e compreensivas. As fantasias podem ser inconscientes, formadas no próprio inconsciente ou terem sido conscientes e depois recalcadas. Por exemplo, fantasias a respeito do nascimento ou de relações incestuosas em geral são inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações indiretas nos sonhos, nos jogos infantis, nas obras artísticas etc. a fantasia reveste-se de um caráter patológico quando tendo a impedir continuamente a resolução dos conflitos, a satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a realidade.
Formação Reativa Mecanismo inconsciente pelo qual atitudes, desejos e sentimentos, desenvolvidos pelo ego são a antítese do que é realmente almejado pelos impulsos. Assim, uma atitude de extrema solicitude para com os outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de hostilidade ou, então, uma pessoa ativa e batalhadora poderá inconscientemente ter desejos de passividade e submissão. Na formação reativa, o impulso inconsciente, em geral, consegue uma indireta satisfação. O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de cuidados e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente. Sua superproteção poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes, porque, pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade e o desenvolvimento da criança.
É um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado. Na formação reativa, o pensamento recalcado se mantém como conteúdo inconsciente. As formações reativas têm a peculiaridade de se tornar uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo em alerta, como se o perigo estivesse sempre presente e prestes a destruí-lo. Um exemplo, uma pessoa com comportamentos homofóbicos, que na verdade, sente-se atraído por pessoas do mesmo sexo.
Introjeção Com fins didáticos, chamaremos de introjeção a todos os tipos de identificação onde o indivíduo, inconscientemente, procura igualar-se a outro, transferindo para si mesmo vários elementos de sua personalidade. Como mecanismo de defesa, a introjeção pode ser definida como um processo inconsciente pelo qual objetos externos positivos ou negativos são internalizados. A introjeção é o inverso da projeção. Ambos os mecanismos são importantes na formação da personalidade. O exagero ou inadequação de seu uso pode, entretanto, torna-los patogênicos. Um exemplo de introjeção normal é o do menino que se identifica com as atitudes e idéias do seu pai, procurando desenvolver padrões apropriados de comportamento masculino.
Negação É um dos mais simples e primitivos mecanismos de defesa. Consiste no bloqueio de certas percepções do mundo externo, ou seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da realidade externa, inconscientemente nega sua existência para proteger-se do sofrimento. Exemplo, uma mãe que dedicou praticamente toda sua vida a uma filha única, ao perde-la  quando esta se casou, continuou a fazer sua cama todas as manhãs e a colocar o seu prato na mesa, como se ela nunca tivesse saído de casa.
Projeção É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não aceitos conscientemente, são imputados a outrem, sem levar em conta os dados da realidade. Exemplo: Um homem, não podendo conscientemente aceitar seus fortes sentimentos hostis em relação a um superior de quem depende, considera que este o persegue e maltrata, embora isto não corresponda às atitudes reais do referido superior. Ex: quando é difícil aceitar que somos invejosos e passamos a achar que todos nos invejam ou quando uma pessoa está com raiva e passa a achar que todos estão contra ela.
Anulação: quando a pessoa tem uma ação que visa apagar o rastro do impulso ou ação anterior, como num ato mágico. Ex: bater na madeira quando se tem um desejo inaceitável ou faz o sinal da cruz quando tem um pensamento ruim. Tem pessoas que acham que o pedido de desculpa deveria anular imediatamente a ação destrutiva anterior.
Identificação: é quando absorvemos (ou copiamos) um comportamento de outra pessoa em nossa própria personalidade. Ex: quando um filho cresce e age da mesma maneira opressiva que os pais.

Racionalização È uma tentativa de explicação consciente visando justificar manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego. Por exemplo, uma atitude agressiva em relação a um semelhante, pode ser justificada pelo agressor como defesa a uma provocação. O que o indivíduo não percebe são seus sentimentos de hostilidade para as pessoas, independente de provocações. Quando esses sentimentos são expressos, procura explicá-los usando de argumentos aparentemente lógicos.
Repressão ou Recalque É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais importante dos mecanismos de defesa do ego e é utilizado desde os primeiros anos de vida para protege-lo da angústia originada dos conflitos psíquicos. É um mecanismo de defesa básico e precede a maioria dos outros, os quais, em geral, funcionam como reforços ou adjuntos, quando a repressão é incompleta. Descrevem-se duas formas de repressão. Uma primária, consistindo na perpetuação no inconsciente de material que nunca foi consciente, como os impulsos não organizados do id e as primitivas experiências infantis, por exemplo, o próprio nascimento. A outra, secundária, consiste na automática expulsão da consciência, de conteúdos do ego, que não podem ser conservados dentro dos limites do pré-consciente sem serem uma ameaça para a integridade daquele. Esta forma é considerada a mais importante e o seguinte exemplo a ilustra: Duas senhoras da sociedade eram bastante amigas e costumavam até trabalhar juntas em campanhas filantrópicas. Posteriormente as circunstâncias fizeram com que tomassem rumos diferentes: uma delas por problemas financeiros precisou mudar-se de cidade. Doía anos mais tarde, reencontraram-se numa festa e foram apresentadas, uma a outra, por um amigo comum que não sabia de seu prévio relacionamento. Enquanto a primeira senhora mostrou-se bastante alegre pelo encontro, a segunda não a reconheceu por mais esforço que fizesse. Percebendo que algo estava errado, procurou não dar mostras de seu comportamento e respondeu a outra no mesmo tom. Entretanto o fato preocupou-a muito. Uma posterior análise, trouxe-lhe à consciência que sentira no passado muita raiva da companheira por sua melhor sorte. Assim, para evitar reviver aqueles desagradáveis sentimentos, esqueceu-se inclusive do seu objeto causador.
As vezes, a repressão é confundida com outro mecanismo de defesa denominado supressão. Os dois levam ao esquecimento, mas a diferença é que, na supressão, há um esforço consciente para desviar a atenção de indesejáveis idéias, objetos ou sentimentos. Assim, ocupando-se com outras atividades, uma pessoa pode esquecer-se, durante o dia, da consulta que fará ao dentista no fim da tarde.
Sublimação É o processo pelo qual um impulso é modificado de forma a ser expresso de conformidade com as demandas do meio. Este processo inconsciente é considerado sempre como uma função do ego normal. Neste sentido, não é propriamente um mecanismo de defesa pois não impõe nenhum trabalho defensivo ao ego. Quer dizer, não é necessário um controle sobre o impulso, pois este apresenta-se modificado de tal forma que pode ser satisfeito sem proibições. O ego, na sublimação, ajuda o id a obter expressão externa, o que não ocorre quando usa outros mecanismos de defesa. Embora o impulso original não seja consciente, na sublimação não existe a repressão pois, ao deparar com a rejeição pela consciência, o impulso é desviado para canais socialmente aceitos. Exemplo: o desejo infantil de brincar com fezes, geralmente repudiado pelos pais, pode ser redigido e ganhar expressão na atividade sublimada de um escultor.
Progressão, Fixação e Regressão   Alguns indivíduos, conseguem passar de um estágio de desenvolvimento para outro, porém ao enfrentar problemas de maior dificuldade, falham e retornam a um estágio anterior onde se sentiam mais seguros e gratificados. Assim, não conseguindo satisfação das necessidades de uma determinada fase, devido aos obstáculos que não consegue ultrapassar, a pessoa regride. É óbvio que para haver regressão a uma determinada fase deve ter havido nesta um certo grau de fixação. Fixação e regressão são complementares. Quanto mais intensa for a fixação, mais facilmente haverá regressão diante de novos obstáculos.

A seguinte ilustração exemplifica os conceitos acima. Três amigos tiveram destinos diferentes quanto à realização matrimonial. O primeiro teve uma mãe afetuosa e firme que sempre foi capaz de ajudar o filho a enfrentar com coragem as dificuldades da vida. Aos 21 anos, enamorou-se de uma jovem com quem veio a casar-se dois anos depois. Apesar de serem de religiões diferentes constituíram-se num casal feliz. O segundo teve uma mãe exagerada no cuidado dos filhos, excessivamente indulgente e preocupada em satisfazer-lhes os mínimos desejos. Ele casou-se aos 30 anos, com uma mulher que se revelou, após o casamento, muito independente, exigindo atitudes semelhantes do marido. Após algum tempo, o casamento fracassou. O rapaz preferiu voltar para sua mãe em busca da antiga situação de dependência, em vez de tornar-se um chefe de família. O terceiro sentia que nunca recebera bastante amor e compreensão em sua casa e vivia na esperança que seu progresso profissional o tornasse mais querido pelos pais. Assim, motivado, deixou de procurar fora do lar alguém que o ajudasse a realizar-se afetivamente e permaneceu solteiro. Os três casos ilustram, respectivamente, progressão, regressão e fixação.

Referencias Bibliograficas: 

1.  FENICHEL, Teoria Pisicanalitica das Neuroses, ed. Atheneu, Rio de Janeiro - 1981
2. FREUD Ana, O EGO e OS Mecanismo de Defesa, Ed. Artimed,Porto Alegre - 2006
3. KAHN Michel, Pensamentos psicanaliticos para o seculo XXI, Ed.Civilizaçao Brasileira, Rio de Janeiro - 205   
4. BRENNER Charles, Introdução a Psicologia Psicanalitica . Ed. IMAGO - 1975

                    Jose Valter Rodrigues Lima
Psicanalísta Clínico e Mestre em Psicanálise Aplicada  à Educação e Saúde