Introdução
Quando uma pessoa chega a um consultório, seja ele(a) procurando um medico, seja ele(a) procurando um psicólogo ou um psicanalista e diz, Dr. “Tenho medo de uma tragédia... não sei dizer qual... Quando me dá esse medo parece que tem algo apertando a minha garganta.” "Sinto uma coisa aqui dentro de mim... não sei explicar. Algo me sufoca, tenho suores e dificuldade de respirar.” Este comportamento pode sugerir ao medico/analista a presença inexorável de um sofrimento que invade o corpo do sujeito. A angústia já é real na presença desta pessoa. Ela conduz muitas pessoas em momentos de crise a procurar ajuda médica quando nada parece poder apaziguá-la. Existe, de fato, uma urgência na angústia e por isso a interrogação da paciente incrédula – que busca uma cura imediata para algo que invade seu corpo.
Nenhuma palavra, além daquelas que descrevem os sintomas corporais, parece possível: “Tenho um aperto no peito! "Às vezes parece que meu peito vai se abrir.” “A cabeça dói. “Sinto tonturas.” Nenhum sentido: “Isso surge de repente, não consigo entender o porque.” Nenhuma relação entre o sofrimento e os acontecimentos imediatos da vida ou mesmo com a história do sujeito. É o corpo que, em sua materialidade, se manifesta, grita.
Nas situações mais extremas de crises de angústia a impressão que se tem é de que somente a intervenção médica, ou seja, a prescrição de remédios, poderá oferecer um alívio para o sofrimento que urge e desespera o sujeito.
Mas, afinal, o que é angústia? Como os Filósofos define, e os Teólogos, E o que a psicanálise tem a oferecer para aquele que se vê atravessado por tal experiência? E a angustia na educação?
Essas são algumas questões que este trabalho se propõe a responder.
Chamamos de angústia a forte sensação psicológica, caracterizada por "abafamento", insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Na moderna psiquiatria a angustia é considerada uma doença que pode produzir problemas psicossomáticos. A angústia é também uma emoção que precede algo, também pode-se chegar a angústia através de lembranças traumáticas que dilaceraram ou fragmentaram o ego. Angústia quando a integridade psíquica está ameaçada, também costuma-se haver angústia em estados paranóicos onde a percepção é redobrada e em casos de ansiedade persecutória. A angústia exerce função crucial na simbolização de perigos reais (situação, circunstância) e imaginários (consequências temidas).
1. A Angustia na filosofia
No tocante à análise do problema da angústia, Arthur Schopenhauer1 nos apresenta em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida: para ele, viver é necessariamente sofrer. Por mais que se tente conferir algum sentido à vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma. A própria vontade é um mal. Nós queremos vencer, desejamos vencer. Mas a vontade gera a angústia e a dor e, os mais tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos frente à infelicidade.
É com base em Schopenhauer que um outro pensador alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche, concluiu que, dentre todos os povos da antiguidade, os gregos foram os que apresentaram maior sensibilidade para compreender o sofrimento e a tragicidade da existência humana, como que permeada pela dor, solidão e morte. Segundo Nietzsche2 é preciso ter consciência de que a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência, desse nosso horizonte limitado, colocando mais alegria em nossas vidas.
Jean-Paul Sartre3, filósofo francês contemporâneo, representante maior da corrente existencialista, defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, posto que sempre haverá uma opção de escolha: mesmo diante de A, pode optar por escolher não A. Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que é senhor de seu destino.
Cícero4, filósofo, orador e advogado romano, influenciado por Platão, é o primeiro a definir a angústia como o lugar estreito, a dificuldade, a miséria, a falta de tempo (angustia temporis) e o ânimo covarde (angustus animus).
Em Sêneca encontramos a temática especialmente no pequeno tratado de filosofia “Tranquilidade da alma”, estruturado na forma de um diálogo entre o filósofo e seu amigo Sereno
O amigo – malgrado o nome – vive momentos de muita aflição em relação à vida e às escolhas que se lhe apresentam e é ele quem dá início a esse belo tratado, solicitando a Sêneca esclarecimentos que aplaquem sua angústia interior e o conduzam a um estado de tranquilidade da alma. Sêneca, então, discursa sobre o mal que inclui tanto aqueles que se atormentam por uma “inconstância de humor, seres que sempre amam somente aquilo que abandonaram” quanto “aqueles que só sabem suspirar e bocejar ... e se viram e reviram como as pessoas que não conseguem dormir ...”. Considera que existem inúmeras variedades desse mal, porém, segundo o filósofo, todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento consigo mesmo5.
O interessante nesse tratado é que Sêneca não responde diretamente às perguntas e dúvidas do amigo, dissertando ao longo das páginas – que se destacam como as mais brilhantes e vivazes do pensador romano – sobre como contornar os obstáculos cotidianos que impedem a paz interior.
Comentários
Os filósofos tentam definir angustia, Arthur Schopenhauer, diz que angustia é : “... viver é necessariamente sofrer. Nietzsche diz que angusta é: ..... ter consciência de que a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um instante os olhos da nossa própria indigência.....”. Jean-Paul Sartre, diz que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre. Cícero, influenciado por Platão, é o primeiro a definir a angústia como o lugar estreito, a dificuldade, a miséria, a falta de tempo e o ânimo covarde. Sêneca, então, considera que na angustia existem inúmeras variedades desse mal, porém, segundo o filósofo, todas conduzem ao mesmo resultado: o descontentamento consigo mesmo. O que podemos entender é que os filósofos contribuíram em muito a psiquiatria e psicanálise na definição de angustia e as causas desse mal.
1 Wikipédia, a enciclopédia livre. Angústia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Ang%C3%BAstia 4
2 R.Q. Cobra Vida, época, filosofia e obras de Martin Heidegger,Lançado 24/01/2003, http://www.cobra.pages.nom.br/fc-heidegger.html 10
3 R.Q. Cobra, Vida, época, filosofia e obras de Jean Paul Sartre, Lançada em 24/01/2003, http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-sartre-I.html 5
4 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011, p. 9
5 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 p. 2
2. Angustia no Cristianismo
Para além do campo filosófico, o tema também encontrará grande expressão no Cristianismo, como forma de representação do desamparo do homem diante do que é nomeado como o silêncio e as trevas – que são, em última instância, a representação do mal. Nessa perspectiva, é pela fé cristã em Deus que o homem poderá se livrar das aflições da vida terrena, encontrando um caminho libertador. Num importante trecho da Bíblia (Lucas.22.39-46), sobre os Jardins de Getsêmani, existe uma referência ao que teria sido o estado máximo de angústia vivido por Cristo. O que aí se expressa é um momento de extrema humanidade e solidão que se soluciona com a invocação feita a Deus no instante da máxima agonia. Nesse ponto, Jesus ora três vezes, fato que vai servir de modelo a todo cristão: é necessário orar continuamente para vencer as atribulações, porque a angústia sempre retorna. No Cristianismo, e em inúmeras outras religiões, a fé é a resposta para a angústia.
Na Idade Moderna, com a emergência da noção de indivíduo e de individualismo, o tema encontrou seu apogeu na corrente filosófica denominada Existencialismo, com o filósofo e teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard6. Sustentando a perspectiva religiosa, toma como referência principal para a existência humana as noções de angústia e desespero. Coloca em relevo a ideia de que, assim como Cristo se angustiou até o instante derradeiro, a experiência da angústia é algo inevitável, sendo indicativa do encontro do homem com um momento crucial em que é colocado à prova diante de uma vasta possibilidade de escolhas.
Para o filósofo, a angústia e o desespero estão em estreita relação, pois ambos os sentimentos levam o homem à necessidade de síntese entre finito e infinito, temporal e eterno, liberdade e necessidade7. Como somos únicos, filhos de nossa época, e como vivemos uma única vez, conclui que nossa importância tem que ser maior do que a do universo como um todo. Mas o que é o indivíduo?, interroga. É o espírito, ou eu, afirma.
Para Kierkegaard é o espírito que realiza a síntese da alma e do corpo. O espírito, ou eu, é, por um lado, o elemento terceiro necessário à humanização e, por outro, aquilo que capacita o homem a se aproximar de Deus.
Essa aproximação só é possível através do desespero, cuja vivência foi muitas vezes exaltada pelo filósofo que fez dos impasses da vida pessoal o fundamento de sua filosofia.
O poeta francês Charles Baudelaire, ao final da poesia “A viagem”, incluída no livro As flores do mal, expressa bem claramente esse momento: “No abismo mergulhar, Inferno ou Céu, que importa? Ao fundo do desconhecido para descobrir o novo!”
É interessante perceber que a psicanálise, apesar de fundamentada em conceitos que se distanciam da filosofia, também destaca que é o encontro com a angústia que vai permitir ao homem uma travessia capaz de fazê-lo descobrir suas possibilidades2.
Kierkegaard sublinha ainda a humanidade da angústia, observando que não se encontra nenhuma angústia no ser bruto, ou seja, no homem cuja natureza não esteja lapidada com o espírito. Acrescenta que quanto menos espírito, menos angústia. Prossegue, considerando que a presença do espírito traz a consciência de que não há nenhum saber absoluto acerca do bem ou do mal e, assim, todo esse impossível se projeta na angústia, como fundo imenso do nada correspondente à ignorância. É, portanto, o encontro com o nada que engendra a angústia, fato que para o filósofo é, simultaneamente, o encontro com aquilo que é parte do divino.
Num importante trecho de seu livro o conceito de angústia, Kierkegaard considera que existem pessoas que se jactam de não se angustiar. Afirma que a essas pessoas responderia que realmente não devemos nos angustiar por pessoas e coisas, porém, destaca que somente aquele que tenha tido a angústia da possibilidade estará educado para não cair presa de angústia. Também para a psicanálise, como veremos, existe a angústia neurótica, que pode ser elaborada através de um tratamento. Por outro lado, não há como curar o homem da angústia como encontro do real, isto é, como encontro daquilo que é a falta última, o não-sentido, pano de fundo de toda existência.
O filósofo defende ainda, de uma forma bastante interessante e, num certo sentido, avessa a uma dada perspectiva contemporânea, que a angústia é uma experiência que deve ser busca- da ativamente pelo homem sensível.
Martin Heidegger 8, filósofo existencialista alemão, reto- ma a temática da existência humana na acepção existencialista kierkegaardiana e a descreve fenomenologicamente, isto é, descreve suas estruturas significativas essenciais. Seguramente foi um dos grandes pensadores do século XX, quer pela recolocação do problema do ser e pela refundação da ontologia, quer pela importância que atribuiu ao conhecimento da tradição filosófica e cultural. Com sua inovadora leitura contribuirá, decisivamente, para elucidar questões filosóficas.
Comentários
A bíblia o livro que foi inspirado por Deus na perspectiva cristã também definiu o que significado de angustia. E Deus definiu como sendo tribulações e que este sentimento sempre retornaria e que a cura era orar pois Jesus, Deus feito homem, orou três vezes, e este fato servi de modelo a todo cristão: é necessário orar continuamente para vencer as atribulações, porque a angústia sempre retorna. "Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra". O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz com a precisão de um clínico. O suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. O servo de Deus o rei Davi em momento de grande angustia diz: Alivia as tribulações do meu coração; tira-me das minhas angústias ( Salmo 27.17). No Cristianismo, a fé é a resposta para a angústia. Devemos lembrar que a angustia sentida por Jesus era um medo conhecido e tinha um propósito, ou seja, ele sabia do que ia acontecer e a suas orações ( sua conversa com pais ) foi para que tirasse dele aquele sofrimento. Davi, estava angustiado por que ia enfrenta um inimigo forte ele sabia quem ia enfrentar e a sua conversa com Deus ele se fortificou. O profeta Isaias diz: Pelo que os meus lombos estão cheios de angústia; dores apoderaram-se de mim como as dores de mulher na hora do parto; estou tão atribulado que não posso ouvir, e tão desfalecido que não posso ver ( Isaias 21.3 ).
O maior problema na vida do homem, na atualidade, é o medo do desconhecido, é aquele medo que que ele não sabe de onde vem. Para os Cristão este medo Deus também cura.
6 R.Q. Cobra Época, vida e pensamentos de Søren Aabye Kierkegaard Lançada em 24/01/2003 http://www.cobra.pages.nom.br/fcp-kierkegaard-I.html 6
7 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 , p. 11
8 R.Q. Cobra Vida, época, filosofia e obras de Martin Heidegger,Lançado 24/01/2003, http://www.cobra.pages.nom.br/fc-heidegger.html
3. Angustia na Medicina
Angustia e a depressão são as respostas mai comum do homem às diversas pressões do mundo contemporâneo e ao mal-estar na atualidade. Quando se toma a idéia de angustia, especialmente numa vertente do filosofo Cícero, a da falta de tempo, a angustia Temporis, temos que concordar que o homem hoje é um ser angustiado por natureza.
De fato, tem sido lugar – comum escutarmos queixas de pessoas que sofrem de angustia. Por sua vez, os meios de comunicação também veiculam, frequentemente, a presença desse mal contemporâneo utilizando a expressão como stress, síndrome de pânico, transtorno bipolar, etc. Mas, na realidade, a temática da angustia é, como vimos, é tão antiga quanto a humanidade, e o que se verifica são diferentes interpretações para esse afeto em função da hegemonia de certos saberes sobre o ser humano presentes na sociedade ao longo do tempo.
A medicina foi a primeira ciência humana, ou seja, a primeira que transformou , seu corpo, em objeto de investigação. Os manuais da história da medicina estabelecem que que a medicina evoluiu desde a medicina Clássica (pre-ciência) para a medicina cientifica. Michel Foucout, no entanto mostra que a pré-ciência e a ciência em cada época , cada cultura , cria o seu modo próprio de explicar o que é doença e o que é sofrimento humano, estabelecendo modos próprios de solucioná-los.
O filosofo Michel Foucaut critica a perspectiva evolucionista, que acredita num aperfeiçoamento do saber cujo corólario seria o discurso Cientifico. Ele considera que, no que diz respeito ao ser humano, os mitos, a filosofia, a religião e o mesmo o saber do senso comum – tidos como saberes não científicos – carregam importantes verdades sobre o homem que não devem ser minimizados em nome de um saber supostamente melhor e mais desenvolvido, que seria o da ciência. No final do século XVII inicio do século XVII a doença não é concebida como algo que vem de dentro do corpo, mas como um elemento da natureza e que deve ser tratado por medico. Mas, somente no século XVIII é que surgia a medicina cientifica e que para se desenvolver depende de ouras ciências, como por exemplo da biologia que permitiu um olhar mais profundo dos médicos, como afirma Foucout. É neste interino é que a medicina pode atravessar o corpo humano em direção a sua interioridade, tornando visível o que outrora era invisível.
No inicio do século XIX, a medicina cientifica se expandiu para o campo social e até hoje é possível identificar um ponto de vista médico em quase todas as facetas da existência. Tendo como base a perspectiva higienista, consolidou a medicina social. Assim, ampliou, na medicina, o poder do que bem e o do que mal do ponto de vista individual e social. A medicina agora passa a intervir não só no indivíduo particularmente, mas também todos aqueles que freqüentavam as instituições hospitalares e consequentemente em toda tessitura do saber medico. A medicina psiquiátrica aos poucos se constituiu contraponto à medicina cientifica, face as dificuldade de localizar a origem da doença mental no corpo. Os médicos psiquiatras encontrou suporte na medicina clássica e adiaram a possibilidade de encontrar a origem das doenças psíquicas no celebro ou no orgânico de forma geral.
Comentários
No relato acima, observamos que a medicina psiquiátrica nasceu tendo como base o modelo descritivo e classificatório oriundo da medicina clássica, e grande parte do esforço do discurso psiquiátrico em toda sua historia tem sido buscar uma validação cientifica que justifique a inclusão da loucura sob jurisdição da medicina. A transformação da loucura em doença mental só ocorreu na Idade Modena, com o saber do medico psiquiátrico. Pautando-se na lógica classificatória da medicina clássica, a medicina psiquiátrica, encontrou no modelo da racionalidade psicológica os elementos necessário à distinção entre o normal e patológico e as bases para os tratamentos de cunho moralizante. O tratamento moral consistia num conjunto de estratégia que visava fazer com que os loucos deixasse de ser loucos. O tratamento moral busca incidir nas causas morais, restituindo ao sujeito o que era chamado de vontade regrada. Inúmeros praticas de tratamentos morais foram utilizadas , desde banhos frio da eletroterapia, como a única perspectiva de calar o sintoma, ou seja, a desrazão. Apesar da utilização dessas praticas de cunho moralizante, não se pode negar, como afirma o psicanalista contemporâneo Philppe Julien, que a psiquiatria, ao adotar o conceito de doença mental, devolveu a humanidade aos loucos, pois passou a vê-los como portadores de uma doença e não como animais selvagens que precisavam ser encarcerados 9.
Atualmente, os consultórios médicos psiquiátricos está olhando para o paciente que tem problemas psíquicos como uma doença que pode ser tratada e até mesmo curada em parceria com a psicologia e psicanálise.
9 Leite, Sonia, Angustia, Rio de Janeiro, RJ, Ed. Zahar, 2011 , p.22
4. Angustia na Psicanálise
Sigmund Freud ( 1925 ), em seu trabalho sobre “ As resistências à Psicanálise” fala acerca das dificuldades de aceitação pelos médicos e filosofo da recentes contribuição da psicanálise ao estudo do psiquismo apesar de que em seus trabalhos, Freud situar a Psicanálise entre a medicina e a filosofia. Alguns médicos vêem a psicanálise como um sistema especulativo e se recusam a acreditar que, apesar de suas peculiaridades, essa disciplina, como toda ciência, se fundamenta numa paciente e incansável elaboração de fatos oriundo do mundo da percepção. No outro lado, medindo-a pelo padrão de seus próprios sistemas especulativos, os filósofos julgam-na na vinculada a premissa impossível que carecem de clareza e precisão, como , por exemplo, o conceito de inconsciente.
É de se esperar que surjam reações a Freud sobre as suas teorias inovadoras, pois está iniciando os primeiros indícios uma nova técnica de tratamento aos problemas de origem psíquicas mesmo Freud reconhecendo a anterioridade lógica da medicina e da filosofia, por ser Freud Medico Neurologista e sua conexão no campo filosófico. Reconhecer o valor de cada uma das disciplinas não impede a especificidade do campo psicanalítico, ao contrario é esta especificidade que permite explicar a angustia cuja temática é também objeto de estudo tanto da área medica como da filosofia.
No seu primeiro escrito sobre a clinica Freud, o afeto da angustia se articulava à discussão concernentes à neurose de angustia, o que resultou a primeira teoria sobre o assunto. Nesta perspectiva, a noção de angustia aparece atrelado a outro conceito central da psicanálise: a sexualidade.
A neurose de angústia é um tipo de doença que Freud definiu como sendo uma neurose atual, caracterizada por um acúmulo de excitação sexual transformada em sintoma sem mediação psíquica. Entende-se por neurose atual aquela que resulta diretamente da ausência ou inadequação da satisfação sexual, diferindo das psiconeuroses cuja origem deve ser procurada nos conflitos infantis. Este tipo de neurose (de angústia), difere na etiologia e no tratamento da histeria de angústia, na qual a angústia se encontra especificamente vinculada a uma situação especial que representa o conflito neurótico.
No caso da neurose de angústia há uma tensão íntima, de caráter geral, manifestada sob a forma de uma angústia constante e oscilante, ou de uma produtividade de angústia. Freud menciona a etiologia de um modo específico cujos fatores mais comuns são a acumulação de tensão sexual e elaboração psíquica da excitação sexual ausente ou insuficiente, representada pela dominação desta, derivando no plano somático sob a forma da angústia.
Freud chamou esta síndrome de “neurose de angústia”( Freud, 1894 -Vol. III, pg. 111), pois todos os seus componentes mantém com a ansiedade uma relação definida, sendo este, um sintoma principal. Nesta doença há um predomínio da angústia, sem objeto privilegiado, sendo os fatores atuais manifestos.
O quadro clínico da neurose de angústia compreende vários sintomas, por exemplo:
Irritabilidade geral: há um aumento na irritabilidade causando grande excitação, podendo tornar-se incontrolável. Uma manifestação da irritabilidade é a “hiperestesia auditiva”, revelada freqüentemente como causa de angústia.
Expectativa ansiosa: esta se dá na ansiedade normal de forma imperceptível, tendo o doente uma visão pessimista, reconhecendo esta como uma espécie de compulsão. Uma das formas da manifestação da expectativa ansiosa é a hipocondria, que requer como pré-condição o aparecimento de parestesias e sensações corporais aflitivas, a distribuição da libido para o hipocondríaco tem o mesmo efeito da doença orgânica. Este perde o interesse e a libido relacionados aos objetos do mundo externo e fixa ambos no órgão que lhe traz desconforto, Até aqui temos a primeira teoria freudiana da angustia em que ele considera sua emergência associada à idéia de uma libido transformada.
Sigmund Freud, pai da Psicanálise, continua seus estudos sobre o problema da angústia. Ele afirmou que vivemos um profundo mal-estar provocado pelo avanço do capitalismo. Neste ínterim, se faz mister observar o quão sucestível o Ocidente está às doenças próprias desse sistema econômico, tais como a esquizofrenia. Contudo, a mais eminente colaboração da Psicanálise para essa temática pode ser percebida na sua análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas fundamentais ao equilíbrio do ser: as vontades (Id) vivem em constante atrito com o instinto repressor (Superego). O balanço entre as vontades e as repressões tem que ser buscado pelo Ego, a consciência. É o Ego que analisa a possibilidade real de por em prática uma ação desejada pelo Id. Não obstante, controla o excessivo rigor imposto pelo Superego. A esse conflito entre o Id e o Superego, Freud denominou angústia. “Cabe ao Ego, portanto, a busca de um equilíbrio entre estas partes do psíquico e, não obstante, entre o sujeito e o todo social."
No texto “Inibições, sintomas e angustia”( Freud, 1926), Freud apresenta a angustia articulada à idéia de desamparo, condição primária do ser humano, é um estado afetivo com um caráter acentuado de desprazer que é liberado, seja automaticamente ( na vivencia traumática ), seja como um sinal que possibilita ao eu uma espécie de preparo cuja função é evitar o reviver da situação ou do desamparo original.
Comentários
A Psicanálise olha para uma pessoa que está com um sintoma ( distúrbio psíquico ) como se ela não tivesse conhecimento de sua origem, de si mesma e das causas que a gerou o sintoma. A Psicanálise, utiliza técnicas que possibilitam a pessoa a saber encontrar respostas e ressignificação do problema, ou seja, nova maneira de pensar, de sentir e de agir sobre ela possibilitará a ela conviver com o problema sem afetar a convivência com a sociedade e consigo mesmo. Pode-se dizer que o tratamento psicanalítico consiste, em ultima instancia, em um processo de descoberta da medida de cada um. Ela nos ensina que o sintoma é algo paradoxal, uma verdadeira formação de compromisso entre o desejo e a defesa; e implica aquilo que Freud denominou de ganho secundário.
A Psicanálise buscar reinventar a vida, a pessoa passa ser um criador da própria vida. Neste sentido, a experiência psicanalítica conduz o sujeito a ir o mais longe possível na construção de algo novo, apesar das determinações inconscientes.
Pessoas que apresentam o quadro de angústia sem acompanhamento profissional, desenvolvem outros distúrbios emocionais, tais como cansaço físico-mental, abaixamento da auto-estima e comportamentos inadequados.
5. Angústias na educação
O mundo atual vive mergulhado num caos de problemas e angústias em consequência das mudanças pelas quais passou nestes últimos tempos, como podemos citar: a revolução tecnológica, a exacerbação religiosa, as mudanças na ordem mundial (como a queda do muro de Berlim, por exemplo), a globalização, entre outros. Tudo isso traz uma grande repercussão para a vida do homem, em todos os setores, inclusive (e talvez principalmente) na educação; consequentemente, isto não tinha como deixar de repercutir na vida dos docentes, já que estes trabalham com a vida humana, com a “produção de sentidos”, com o subjetivismo; o professor está intrinsecamente ligado às coisas do mundo, aos acontecimentos que ocorrem ao seu redor.
Angústias e interrogações “sacodem” o mundo individual do educador atual, que tem uma série de fatores e coisas que funcionam como seus rivais nessa “exaustiva” profissão. Essas angústias são naturalmente normais na vida do professor da atualidade, ou da maioria deles. No tempo atual, um professor que não tenha um nível razoável de angústia em relação à sua atividade, que não se sinta desacomodado, com certeza não é um professor do tempo atual.
Neste contexto, fica registrado que nem sempre o professor atual se angustia com os acontecimentos do mundo, esse mundo que está vivendo grandes, velozes e profundas transformações. Mas a sociedade dita moderna está em crise. Por isso, é necessário que o professor repense continuamente o seu papel, assuma-se enquanto profissional da educação, enquanto profissional humano, social e político, tomando partido, ousando, não se omitindo, engajando-se social e politicamente, sendo não apenas um mediador do conhecimento, mas possibilitando transformações nas estruturas opressoras dessa sociedade classicista em que vivemos.
Entretanto, o professor é um profissional que vem contínua e lentamente sendo desvalorizado e, provavelmente, essa desvalorização está agindo como fator negativo para a vida docente, desestimulando esses profissionais; além disso, estes recebem os piores salários, se formos pensar na relevância dessa profissão. É claro que um erro não justifica o outro, que este fato não pode levar o professor a agir de forma errada em relação ao seu trabalho, principalmente por estar voltado à vida humana, mas um docente é também um ser humano; não é um deus, precisa viver; não é uma enciclopédia, precisa estudar; não é de ferro, precisa de descanso; é de carne e osso, pode adoecer; é humano, por isso pode falhar, e tem necessidades (físicas, sociais, psicológicas, afetivas...). Desvalorizado e à margem, o professor se desencanta com a profissão e, em sua maioria, esses educadores desencantados são também maus profissionais que “alinhavam” o processo de ensino-aprendizagem.
Levando em conta que cada um deve se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal, cabe ao professor, enquanto profissional de educação, independente dos percalços da profissão, realizar os objetivos que esta profissão exige. Para isso, entretanto, faz-se necessário que o próprio professor internalize “sua missão”, faça uma viagem interior e reflita sobre seu papel social e político, sobre sua importância (mesmo que não reconhecida) para a sociedade. É preciso que o professor ainda acredite que é pela educação que o mundo pode melhorar. A escola ainda é o maior veículo transmissor do conhecimento, mesmo com tantos outros que circulam neste novo tempo, um tempo tecnológico.
O ser humano tem que estar preparado para acompanhar a evolução do tempo, as inovações do mundo e é através da escola que ele irá se preparar tanto para seu crescimento pessoal quanto profissional. Se a educação tem papel relevante no desenvolvimento do indivíduo e das sociedades, o professor é o elemento mediador desse desenvolvimento, tendo papel determinante na formação de atitudes, despertando no aluno a curiosidade e estimulando o intelectualismo, bem como desenvolvendo a autonomia para criar as necessárias condições de sucesso da educação formal.
A escola é um portal do conhecimento. Mas enquanto a educação não for realmente prioridade neste país, não será possível acontecer melhorias nem desenvolvimento. Professor desmotivado e desencantado com a educação não tem possibilidade de ser um bom profissional, portanto, alija o próprio ofício e o processo de buscar e levar o conhecimento. Espremido pelas diversos fatores que o leva à necessidade de atualização permanente, o professor busca meios para redefinir o seu fazer educacional.
Exige-se competência e profissionalismo do professor, fazendo recair sobre ele a grande responsabilidade sobre a educação de qualidade, no entanto, este já traz em si mesmo os graves problemas sociais porque passa ele mesmo e a sociedade, então como poderá resolvê-los na sala de aula? Uma sala de aula onde tantos alunos chegam vindos também de graves problemas sociais como a fome, a pobreza, a violência, as drogas, a família desajustada, a falta de saúde, entre outros; por outro lado, tem alunos que tem excesso de bens materiais e de liberdade, de mimos, de oportunidades. Como equilibrar tantas tensões sociais? O professor é capaz de levar esses alunos a enfrentar seus problemas e, ainda, fazê-lo apreender os conhecimentos planejados?
Neste contexto, é relevante que os governantes revejam seu olhar sobre a educação e, consequentemente, sobre os profissionais de educação. É preciso resgatar o valor do docente enquanto profissional para que este possa encontrar sua identidade. Para isto, é preciso também que este se sinta seguro quanto a importância do seu papel social e profissional. O professor não deve temer sair à luta pela valorização do seu espaço, pois é através da luta pela dignidade, pela cidadania, pela igualdade de direitos, pela ética no convívio social e na política que poderá aprender a importância da formação de sua identidade.
A educação, direito de todos, deve acontecer através de pessoas seguras de seu ofício, do seu valor pessoal e profissional, bem como capazes de entender, ou pelo menos saber gerenciar, as tensões que ocorrem no mundo; a prática educacional deve acontecer de forma natural, sem opressão, pois como diz Sócrates, quem é livre não deve aprender ciência alguma como uma escravatura. E que os esforços físicos, praticados à força, não causam mal algum ao corpo, ao passo que na alma não permanece nada que tenha entrado pela violência. Portanto, A educação deve ocorrer de forma natural e prazerosa.
Discutir sobre o papel do professor acaba nos fazendo enveredar por caminhos diversos, já que a educação está em todo lugar, mas fazê-lo é necessário. Acreditar em mudanças melhores e mais eficazes para esta instancia e para a vida dos profissionais que nela estão inseridos é uma necessidade, pois não se pode deixar levar pela insegurança, pela desesperança. Esperar numa vida melhor, cuidar para que isto aconteça é tarefa de todos, pais e professores, alunos, sociedade, governantes, todos juntos em busca de um bem comum, de certezas, de vitórias, este é o cenário que se deve montar. Em unidade, todos conseguiremos fazer o melhor, mas com os pés no chão, sem utopias, usando as tensões e angústias, os desencontros, as carências, a insegurança e o medo, como motivos impulsionadores dessa luta de todos nós por uma educação de qualidade.
6. Conclusão
" sinto uma coisa aqui dentro de mim......, Tenho medo de uma tragédia.... Não sei qual, mas sinto.....de vez enquanto tenho uma apreensão no peito, uma expectativa que algo de ruim vai acontecer....."
As frases frases transcritas acima, ouvidas na clínica particular, publicas e em igrejas indicam a presença inexorável de um sofrimento que invade a mente do sujeito. Isto é angústia e é real. Ela leva muitas pessoas a procurar ajuda médica, psicologia ou psicanalíticas. A necessidade das pessoas a buscar com urgências a entender e curar este.sintoma é real e crescente.
A angustia inspirou, filosofo, médicos, psicólogos, psicanalista e educadores a descrever e interpretar este sintoma. Será que é um sintoma? Ou será um caso clinico? Ou será um tema filosófico? Ou a fé é suficiente no seu processo de cura? Acredito que continuamente está sendo mais e mais explorado por cada instituição acima representada.
Bibliografia
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_____. As resistência à psicanálise, in ESB, Vol.XIX, 1925
_____. Aangustia, in ESB das Obras Psicologica Completas, Vol. XVI, 1917
_____. Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada neurose de angustia, in ESB das Obras Psicologica Completas, Vol.III, 1894.
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