Na estrutura psíquica, o ego
surge em resposta às frustrações e exigências que o mundo externo impõe ao
organismo . À medida que se desenvolve, aprende a obedecer o princípio da realidade, enquanto que o id persiste seguindo
o princípio do prazer. Obviamente,então, haverá conflito entre o ego e o id. O superego incorporou-se
ao ego como um controle automático devido às exigências impostas pelo meio. Entretanto, o próprio meio pode ser fonte de tentações para os
impulsos do id e haverá então um conflito entre o ego e o superego.
Em
vista disto, desenvolvem-se os mecanismos de defesa destinados a proteger a
pessoa contra impulsos ou afetos que possam ocasionar aqueles conflitos, os
quais são fontes de angustia. A angustia é a reação do ego diante da percepção
inconsciente de qualquer ameaça`a sua integridade e se traduz por sintomas e
sinais equivalentes a uma reação intensa de medo, porém sem objeto
aparente. As ameaças podem provir da própria natureza
e intensidade do impulso, do sentimento de culpa frente ao superego se houver
satisfação do impulso,do sentimento de inferioridade se o
impulso não for satisfeito e do receio da crítica social se o indivíduo não rejeitar as próprias tendências.
Os
mecanismos de defesa têm funções protetoras e alguns deles são empregados por todos, na vida cotidiana, para
conseguir a estabilidade emocional.
Podem ser usados para auxiliar na integração da personalidade, apoiando-a na adaptação ao meio e nas relações
interpessoais. Entretanto, seu uso pode ser feito de forma inadequada ou mesmo
destrutiva, tornando-os em si mesmos, ameaças para o bom
funcionamento do ego, levando ao aparecimento de distúrbios psicológicos.
A
literatura refere mais de trinta mecanismos de defesa, na sua grande maioria
inconscientes. A seguir serão considerados os principais:
Compensação – É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo, inconscientemente, procura compensar uma deficiência real ou imaginária. Exemplo:
Um homem com um defeito físico pelo qual sente-se inferiorizado perante
aos demais, despende grande esforço para desenvolver sua capacidade intelectual
e chega a ser uma pessoa famosa. Não tem consciência de que o prestígio alcançado teve como motivação seus
sentimentos de inferioridade.
Deslocamento
– Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento é inconscientemente deslocado de um objeto original
para um objeto substituto. O deslocamento é um dos
mecanismos fundamentais da neurose conhecida como fobia e o exemplo clássico é o pequeno Hans, tratado por Freud. O menino não podendo aceitar conscientemente a intolerável idéia de odiar seu querido pai, procurou resolver
o conflito entre amor e ódio, deslocando os sentimentos negativos para
os cavalos. Os impulsos agressivos e os temores de respostas de morte, originalmente
dirigidas ao pai, passaram para aqueles animais. Por isso Hans os temia, a
ponto de não mais sair de casa para não vir a
encontrá-los.
Deslocamento: é quando um sentimento ou impulso é transferido de uma parte para um todo e vice-versa.
Ex: quando a mulher tem uma experiência ruim com um homem e diz que todos os
homens não prestam. Quando escolhemos uma pessoa amada com a
característica original dos nossos pais. [fetiches]. Quando uma
pessoa que foi abusada desloca o medo do agressor para uma fobia de uma figura
inicialmente inofensiva (palhaço). [leia mais]
Através do deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que resultaria da consciência da real origem
de um problema. Seus efeitos podem vir a tona, mas o motivo original é disfarçado.
Fantasia – É um conjunto de idéias ou
imagens mentais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. As fantasias conscientes,
muito comuns na adolescência são também chamadas de sonhos diurnos. Em qualquer
pessoa, as fantasias podem atuar como um saudável mecanismo
de adaptação à realidade externa sempre que a obtenção de determinados desejos são impossíveis de satisfação imediata. Por exemplo, um estudante que
sente seus professores demasiadamente austeros e exigentes, imagina-se como um
futuro professor que tem para com seus alunos atitudes indulgentes e
compreensivas. As fantasias podem ser inconscientes, formadas no próprio inconsciente ou terem sido conscientes e depois
recalcadas. Por exemplo, fantasias a respeito do nascimento ou de relações incestuosas em geral são
inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações indiretas
nos sonhos, nos jogos infantis, nas obras artísticas etc. a
fantasia reveste-se de um caráter patológico quando
tendo a impedir continuamente a resolução dos conflitos, a satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a
realidade.
Formação Reativa – Mecanismo inconsciente pelo qual atitudes, desejos e
sentimentos, desenvolvidos pelo ego são a antítese do que é realmente
almejado pelos impulsos. Assim, uma atitude de extrema solicitude para com os
outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de hostilidade ou, então, uma pessoa ativa e batalhadora poderá inconscientemente ter desejos de passividade e submissão. Na formação reativa, o impulso inconsciente, em geral,
consegue uma indireta satisfação. O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de
cuidados e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente.
Sua superproteção poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes,
porque, pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade
e o desenvolvimento da criança.
É um mecanismo caracterizado pela aderência a um pensamento contrário àquele que foi, de alguma forma, recalcado. Na formação reativa, o pensamento recalcado se mantém como conteúdo inconsciente. As formações reativas
têm a peculiaridade de se tornar uma alteração na estrutura da personalidade, colocando o indivíduo em alerta, como se o perigo estivesse sempre
presente e prestes a destruí-lo. Um exemplo, uma pessoa com comportamentos
homofóbicos, que na verdade, sente-se atraído por pessoas do mesmo sexo.
Introjeção – Com fins didáticos, chamaremos de introjeção a todos os tipos de identificação onde o
indivíduo, inconscientemente, procura igualar-se a outro,
transferindo para si mesmo vários elementos de sua personalidade. Como
mecanismo de defesa, a introjeção pode ser definida como um processo
inconsciente pelo qual objetos externos positivos ou negativos são internalizados. A introjeção é o inverso da projeção. Ambos os
mecanismos são importantes na formação da
personalidade. O exagero ou inadequação de seu uso pode, entretanto, torna-los patogênicos. Um exemplo de introjeção normal é o do menino que se identifica com as atitudes e idéias do seu pai, procurando desenvolver padrões apropriados de comportamento masculino.
Negação – É um dos mais simples e primitivos mecanismos
de defesa. Consiste no bloqueio de certas percepções do mundo
externo, ou seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da realidade externa, inconscientemente
nega sua existência para proteger-se do sofrimento. Exemplo, uma mãe que dedicou praticamente toda sua vida a uma filha única, ao “ perde-la” quando esta se casou, continuou a fazer sua
cama todas as manhãs e a colocar o seu prato na mesa, como se ela
nunca tivesse saído de casa.
Projeção – É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não aceitos conscientemente, são imputados a outrem, sem levar em conta os dados da
realidade. Exemplo: Um homem, não podendo conscientemente aceitar seus fortes
sentimentos hostis em relação a um superior de quem depende, considera que
este o persegue e maltrata, embora isto não corresponda às atitudes
reais do referido superior. Ex: quando é difícil aceitar que somos invejosos e passamos a
achar que todos nos invejam ou quando uma pessoa está com raiva e
passa a achar que todos estão contra ela.
Anulação: quando a pessoa tem uma ação que visa
apagar o rastro do impulso ou ação anterior, como num ato mágico. Ex: bater na madeira quando se tem um desejo
inaceitável ou faz o sinal da cruz quando tem um pensamento
ruim. Tem pessoas que acham que o pedido de desculpa deveria anular
imediatamente a ação destrutiva anterior.
Identificação: é quando absorvemos (ou copiamos) um
comportamento de outra pessoa em nossa própria personalidade. Ex: quando um filho cresce
e age da mesma maneira opressiva que os pais.
Racionalização – È uma tentativa de explicação consciente
visando justificar manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego. Por exemplo, uma atitude agressiva
em relação a um semelhante, pode ser justificada pelo agressor
como defesa a uma provocação. O que o indivíduo não percebe são seus sentimentos de hostilidade para as
pessoas, independente de provocações. Quando esses sentimentos são expressos, procura explicá-los usando
de argumentos aparentemente lógicos.
Repressão ou Recalque – É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou
sentimentos inaceitáveis, os quais não podem
tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais importante dos mecanismos de defesa do
ego e é utilizado desde os primeiros anos de vida para
protege-lo da angústia originada dos conflitos psíquicos. É um mecanismo de defesa básico e
precede a maioria dos outros, os quais, em geral, funcionam como reforços ou adjuntos, quando a repressão é incompleta. Descrevem-se duas formas de repressão. Uma primária, consistindo na perpetuação no inconsciente de material que nunca foi
consciente, como os impulsos não organizados do id e as primitivas experiências infantis, por exemplo, o próprio
nascimento. A outra, secundária, consiste na automática expulsão da consciência, de conteúdos do ego,
que não podem ser conservados dentro dos limites do pré-consciente sem serem uma ameaça para a
integridade daquele. Esta forma é considerada a mais importante e o seguinte
exemplo a ilustra: Duas senhoras da sociedade eram bastante amigas e costumavam
até trabalhar juntas em campanhas filantrópicas. Posteriormente as circunstâncias fizeram
com que tomassem rumos diferentes: uma delas por problemas financeiros precisou
mudar-se de cidade. Doía anos mais tarde, reencontraram-se numa festa
e foram apresentadas, uma a outra, por um amigo comum que não sabia de seu prévio
relacionamento. Enquanto a primeira senhora mostrou-se bastante alegre pelo
encontro, a segunda não a reconheceu por mais esforço que fizesse. Percebendo que algo estava errado,
procurou não dar mostras de seu comportamento e respondeu a outra
no mesmo tom. Entretanto o fato preocupou-a muito. Uma posterior análise, trouxe-lhe à consciência que sentira no passado muita raiva da companheira
por sua melhor sorte. Assim, para evitar reviver aqueles desagradáveis sentimentos, “ esqueceu-se” inclusive do seu objeto causador.
As vezes, a repressão é confundida com outro mecanismo de defesa
denominado supressão. Os dois levam ao “ esquecimento”, mas a diferença é que, na supressão, há um esforço consciente para desviar a atenção de indesejáveis idéias, objetos ou sentimentos. Assim,
ocupando-se com outras atividades, uma pessoa pode “ esquecer-se”, durante o dia, da consulta que fará ao dentista no fim da tarde.
Sublimação – É o processo pelo qual um impulso é modificado de forma a ser expresso de conformidade
com as demandas do meio. Este processo inconsciente é considerado
sempre como uma função do ego normal. Neste sentido, não é propriamente um mecanismo de defesa pois não impõe nenhum trabalho defensivo ao ego. Quer
dizer, não é necessário um controle sobre o impulso, pois este
apresenta-se modificado de tal forma que pode ser satisfeito sem proibições. O ego, na sublimação, ajuda o
id a obter expressão externa, o que não ocorre
quando usa outros mecanismos de defesa. Embora o impulso original não seja consciente, na sublimação não existe a repressão pois, ao
deparar com a rejeição pela consciência, o
impulso é desviado para canais socialmente aceitos. Exemplo: o
desejo infantil de brincar com fezes, geralmente repudiado pelos pais, pode ser
redigido e ganhar expressão na atividade sublimada de um escultor.
Progressão, Fixação e Regressão – Alguns
indivíduos, conseguem passar de um estágio de
desenvolvimento para outro, porém ao enfrentar problemas de maior dificuldade,
falham e retornam a um estágio anterior onde se sentiam mais seguros e
gratificados. Assim, não conseguindo satisfação das
necessidades de uma determinada fase, devido aos obstáculos que não consegue ultrapassar, a pessoa regride. É óbvio que para haver regressão a uma determinada fase deve ter havido nesta um
certo grau de fixação. Fixação e regressão são complementares. Quanto mais intensa for a fixação, mais facilmente haverá regressão diante de novos obstáculos.
A seguinte ilustração exemplifica os conceitos acima. Três amigos tiveram destinos diferentes quanto à realização matrimonial. O primeiro teve uma mãe afetuosa e firme que sempre foi capaz de ajudar o
filho a enfrentar com coragem as dificuldades da vida. Aos 21 anos, enamorou-se
de uma jovem com quem veio a casar-se dois anos depois. Apesar de serem de
religiões diferentes constituíram-se num
casal feliz. O segundo teve uma mãe exagerada no cuidado dos filhos,
excessivamente indulgente e preocupada em satisfazer-lhes os mínimos desejos. Ele casou-se aos 30 anos, com uma
mulher que se revelou, após o casamento, muito independente, exigindo
atitudes semelhantes do marido. Após algum tempo, o casamento fracassou. O rapaz
preferiu voltar para sua mãe em busca da antiga situação de dependência, em vez de tornar-se um chefe de família. O terceiro sentia que nunca recebera bastante
amor e compreensão em sua casa e vivia na esperança que seu
progresso profissional o tornasse mais querido pelos pais. Assim, motivado,
deixou de procurar fora do lar alguém que o ajudasse a realizar-se afetivamente e
permaneceu solteiro. Os três casos ilustram, respectivamente, progressão, regressão e fixação.
Referencias Bibliograficas:
1. FENICHEL, Teoria Pisicanalitica das Neuroses, ed. Atheneu, Rio de Janeiro - 1981
2. FREUD Ana, O EGO e OS Mecanismo de Defesa, Ed. Artimed,Porto Alegre - 2006
3. KAHN Michel, Pensamentos psicanaliticos para o seculo XXI, Ed.Civilizaçao Brasileira, Rio de Janeiro - 205
4. BRENNER Charles, Introdução a Psicologia Psicanalitica . Ed. IMAGO - 1975
Jose Valter Rodrigues Lima
Referencias Bibliograficas:
1. FENICHEL, Teoria Pisicanalitica das Neuroses, ed. Atheneu, Rio de Janeiro - 1981
2. FREUD Ana, O EGO e OS Mecanismo de Defesa, Ed. Artimed,Porto Alegre - 2006
3. KAHN Michel, Pensamentos psicanaliticos para o seculo XXI, Ed.Civilizaçao Brasileira, Rio de Janeiro - 205
4. BRENNER Charles, Introdução a Psicologia Psicanalitica . Ed. IMAGO - 1975
Jose Valter Rodrigues Lima
Psicanalísta Clínico e Mestre em Psicanálise Aplicada à Educação e Saúde
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