domingo, 30 de setembro de 2018

Não quero crescer - diz a criança a sua mãe!


"Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino." Fernando Sabino 

O desenvolvimento se dá por crises, o que isto quer dizer? Imagine que o feto está quentinho dentro da barriga de sua mãe, recebendo alimentação e crescendo confortavelmente, até que, um belo dia, o útero fica pequeno e começa a se contrair para expulsá-lo de lá.
Esta é a primeira crise pela qual o Ser Humano em formação passa. Não há alternativa senão sair e nascer. De repente um monte de luzes, vozes, agitação, frio e desconforto. Um tapinha, a primeira dor e o choro.
Um mundo novo, desconhecido, apresentado com desconforto surge diante do bebê e não há alternativa, ele terá que enfrentar a crise e seguir adiante.
Passados estes primeiros momentos ele começa a perceber que a alimentação continua chegando, um leite quentinho jorra do seio da mãe em sua boca. Ah!!! Também chega o conforto através de toques suaves e um amor diferente do que ele recebia enquanto estava na barriga.
Aos poucos ele vai percebendo que aqui, do lado de fora, também pode ser bem confortável e bom, tanto ou mais do que na barriga. Mas, o bebê só vai descobrir se enfrentar e superar a crise do nascimento.
E assim será em cada fase do desenvolvimento físico e emocional do Ser Humano. Após a crise sempre há um período de adaptação e descoberta das belezas, oportunidades e prazeres da nova fase, seguindo-se uma fase de estabilidade, para total integração dos aprendizados, para novamente surgir uma crise que levará a um novo patamar de desenvolvimento.
Então, quando seu filho (a) lhe disser que não quer crescer, isto é sinal de que uma nova fase de desenvolvimento já se apresentou, e ele (a) está com dificuldade em se desapegar do estado atual para enfrentar o processo de crescimento, porque o estado atual lhe parece bem melhor do que ele (a) vislumbra no próximo.
Na grande maioria das vezes ele (a) está pedindo ajuda. Então, é hora de parar e observar a vida que vocês estão levando, os arredores, os ambientes que ele (a) frequenta, para descobrir o que está gerando medo.
Algumas vezes a questão está dentro de casa mesmo. Um garoto ou uma garota de 11 ou 12 anos perguntando se não pode permanecer criança, está sinalizando que a forma como ele (a) percebe a vida adulta é assustadora.
De onde vem esta percepção? Provavelmente da forma como seus pais estão lhe apresentando a vida.
Sugiro que você, que está passando por isso, observe os ADJETIVOS que usa para qualificar sua vida, trabalho ou relação afetiva: Dura, difícil, desgastante, ruim, sem perspectiva, louca, desestimulante, etc…
Que frases você mais costuma dizer: A vida é difícil; O trabalho é uma m…., Todo chefe é explorador; Eu tenho que trabalhar muito, para pagar suas contas, não tenho tempo agora; Puxa filho, meu maior desejo é não trabalhar para ficar com você; Essa empresa suga tudo o que tenho, estou exaurida (o); Todo relacionamento é ruim mesmo, é bom sóno começo; Ruim com ele, pior sem ele; As mulheres são destrambelhadas; Os homens não são dignos de confiança; etc…
Como você tem apresentado o mundo do trabalho, do estudo, a vida a seus filhos?
E se alguém lhe apresentasse algo que você terá que enfrentar em breve com tanta negatividade, como você se sentiria? Pense nisso!

Quem nunca falou ou ouviu (quando criança) comentários como: "se você não estudar direito hoje, como arrumará um emprego quando crescer?" Ou então " se você não for mais responsável, como irá se cuidar quando crescer?". Acredito que a intenção dos pais é despertar na criança senso de responsabilidade.

Mas atenção! Imagine como é ouvir isso diversas vezes durante a infância. Tais comentários fazem com que o "crescer" pareça algo muito difícil e grandioso, talvez até inalcançável. Poderá despertar na criança um sentimento de medo em relação ao futuro. E o mais importante, tais comentários não fazem com que a criança se torne mais responsável.
Uma criança que frequentemente ouve tais cobranças, poderá sentir-se ansiosa, e com medo: "se eu não consigo fazer direito hoje, também não conseguirei fazer quando crescer". O futuro poderá parecer difuso e ameaçador, dando a sensação de que provavelmente não conseguirá corresponder ao que se espera dela.

Não é incomum crianças apresentarem medo de crescer. Algumas vezes esse medo é expresso verbalmente, outras vezes conseguimos notá-lo através do comportamento.

É importante saber dosar a forma como é feita qualquer cobrança, sendo assim, vamos deixar muitas delas no tempo presente. Por exemplo: a criança precisa fazer a lição de casa porque é sua responsabilidade, e um compromisso assumido hoje com a professora, e não porque futuramente precisará de um bom emprego.
O futuro deixaremos no lugar dele.

Se estiver muito desafiador fazer esta reflexão ou mudar sua percepção de mundo para melhor, busque ajuda. Existem muitos trabalhos que podem auxiliá-lo (a): psicoterapia, terapias variadas, livros, cursos, etc…
Encare a fala de seu filho como alerta e uma grande oportunidade para mudanças em você, que refletirá nele (a).


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O que é personalidade? E temperamento? E caráter?



Maturidade emocional é reconhecer  erros. Não para consertá-los, mas para não repeti-los. 
"Valter rodrigues"

O que personalidade? E temperamento e caráter?
Temperamento é a biologia, caráter o ambiente! E a personalidade?  É a combinação da biologia e ambiente.

Estes conceitos servem para expressar formas de pensar sentir e agir, não devemos confundi-los.

Na linguagem cotidiana, usamos os termos “personalidade”, “temperamento” e “caráter” aleatoriamente; mas a psicologia estabelece limites claros entre estes três conceitos que representam diferentes aspectos da experiência humana.


Definiremos o que é a personalidade, o temperamento e o caráter. Para isso, vamos fazer uma breve revisão da etimologia dos termos e da utilização deles ao longo da história e do ponto de vista da psicologia científica a respeito de suas diferenças e semelhanças.

O que é o temperamento?

Quando falamos de temperamento estamos nos referindo à dimensão biológica e instintiva da personalidade, que se manifesta antes de outros fatores. Durante a vida de qualquer pessoa, as influências ambientais interagem com sua base temperamental, resultando em recursos que a caracterizam e a diferenciam das outras pessoas.


O temperamento é determinado pela herança genética, o que influencia de forma muito significativa o funcionamento dos sistemas nervoso e endócrino, ou seja, influencia relativamente distintos neurotransmissores e hormônios . Outros aspectos inatos, como o nível de alerta cerebral, também são importantes para o desenvolvimento da personalidade.
Estas diferenças individuais geram variações em diferentes características e predisposições; por exemplo, a hiperatividade do sistema nervoso simpático favorece o aparecimento de sentimentos como a ansiedade, enquanto as pessoas introvertidas se caracterizam por níveis cronicamente baixos de ativação cortical, de acordo com o  modelo PEN descrito por Hans Eysenk.

Evolução histórica do conceito

Na Grécia Antiga, o famoso médico Hipócrates afirmou que a personalidade e a enfermidade humana dependiam do equilíbrio ou do desequilíbrio entre quatro humores corporais: a bile amarela, a bile negra, o fleuma e o sangue.
No século II dC, cerca de 500 anos mais tarde, Galeno de Pérgamo criou uma tipologia temperamental que classificava as pessoas de acordo com o humor predominante. No tipo colérico predominava a bile amarela, no melancólico a negra, no fleumático o fleuma e no sanguíneo, o sangue.
Bem mais tarde, no século XX, autores como Eysenck e Pavlov desenvolveram teorias da personalidade baseadas na biologia. Como os modelos de Hipócrates e Galen, ambos usaram a estabilidade (Neuroticismo – Estabilidade emocional) e a atividade (Extroversão – introversão) do sistema nervoso central como critérios diferenciadores básicos.

Definindo o caráter

O caráter é o componente aprendido da personalidade. São as consequências das experiências que vivemos e que influenciam na nossa maneira de ser, modulando as predisposições e tendências biológicas, ou seja, temperamentais.
Não existe um grau de acordo tão elevado sobre a definição de caráter como no caso do temperamento, a maioria das propostas destacam que seus efeitos derivam da interação social. Isto significa que depende do contexto em que o desenvolvemos e que, portanto, tem uma origem cultural.
No início do século XX, o estudo do caráter ou caracterologia, era uma tendência predominante que acabou sendo substituída pela Psicologia da Personalidade; na verdade, essas perspectivas não são muito diferentes dos modelos atuais. Entre os autores que trabalharam com o conceito de caráter, se destacam Ernst Kretschmer e William Stern.
Atualmente, em muitos casos, não se faz distinção entre o caráter e a personalidade. De forma estrita, o caráter é especificamente a parte da nossa natureza que é determinada pelo ambiente, mas a dificuldade de separá-la do temperamento faz com que as definições de caráter e personalidade se sobreponham.

Personalidade: a soma da biologia e do ambiente


Na psicologia, o termo “personalidade” é definido como uma organização de emoções, cognições e condutas que determinam os padrões de comportamento de uma pessoa. Na formação da personalidade intervém tanto a base biológica (temperamento), como as influências ambientais (caráter). Portanto, o aspecto mais notável da personalidade, em comparação com os conceitos de temperamento e caráter, é que ambos são incluídos. Visto que é difícil definir qual parte do modo de ser pertence à hereditariedade e qual parte provém do ambiente, o termo personalidade é mais útil do que os citados acima, a nível teórico e prático.
A psicologia tem oferecido uma série de concepções da personalidade. Uma das mais influentes é a de Gordon Allport, que também destaca as manifestações mentais e comportamentais e o componente organizacional, mas acrescenta um fator de dinamismo (contínua interação com o ambiente) e de especificidade individual.
Cada teoria psicológica sobre a personalidade destaca diferentes aspectos da experiência humana. Além da teoria individualista de Allport, entre as mais importantes encontramos as de Eysenck, que foca nas dimensões biológicas, e as dos humanistas Rogers e Maslow.
É importante também fazer menção aos modelos situacionistas, que aproximam o conceito de personalidade ao de comportamento. A partir dessas perspectivas, propõe-se que o comportamento humano não depende tanto de construções mentais como das influências ambientais em uma situação concreta, ou que a personalidade seja um repertório comportamental.

A história da palavra “personalidade”

Na Grécia Antiga, a palavra “persona” era usada para se referir às máscaras dos atores no teatro. Mais tarde, em Roma, passou a ser usada como sinônimo de “cidadão”, designando principalmente os papéis sociais dos indivíduos privilegiados e influentes.
Com o tempo, o termo “persona” começou a referir-se ao indivíduo, como um ser distinto ao seu ambiente. “Personalidade” é o termo derivado desta palavra, e é usada desde a Idade Média para descrever uma série de características que determinam as tendências de comportamento de uma pessoa.