sábado, 7 de fevereiro de 2015

Crianças superprotegidos tornam-se dependentes e frágeis na vida adulta


Como tudo começa?

Os americanos os chamam helicopter parents, pais helicópteros. São aqueles pais que, silenciosamente, vigiam à distância os seus filhos, quando brincam, quando interagem com os outros, quando escolhem o que irão vestir naquela manhã. Aqueles pais que, se nos olharmos sinceramente no espelho, teremos grande chance de vê-los refletidos. Nos tornamos tão obcecados pela segurança que, já de cara, privamos nossos filhos da possibilidade de assumir riscos e de pagar pelas suas consequências, tanto a nível físico quanto emocional, explicou a psicóloga social Hanna Rosin, autora de um artigo sobre crianças superprotegidas, recentemente publicado na prestigiosa revista The Atlantic.

O Dr. G. Stanley Hall, notável psicólogo americano, afirmava que "ser superprotegido ou ser filho único é, em si mesmo, uma doença". Esta afirmação tão radical poderá ser considerada com muita porcentagem de verdade a nível psíquico. A nível socioeconômico, tem a vantagem dos pais concentrarem no filho único os seus recursos de tempo e especialmente de dinheiro, tornando-lhe tanto quanto possível a caminhada existencial demasiadamente fácil, tornando-o freqüentemente egocêntrico, caprichoso. Parece possuir tudo, toda a superproteção e apoio material, mas, à medida que cresce, instala-se no seu íntimo um vazio, uma sensação de não saber que rumo tomar. Fica inquieto e insatisfeito e tende a maltratar, principalmente o pai.

Superproteção é dar à criança o que ela não necessita, e as conseqüências são tristes. Em regras gerais, a criança mais inteligente cria um anseio premente de independência e libertação, que a conduz a caminhos desencontrados da sua real necessidade. O menos inteligente, mais amedrontado, que não vivencia tão fortemente a rebeldia, acomoda-se, anula-se e segue dependente, inseguro e permanentemente angustiado.

As  mães frustradas sentimentalmente, afetivamente solitárias, separadas ou mães solteiras fixam-se no filho, ou filhos, como propriedade. Fazem isso porque é o que elas têm para minimizar a solidão de amor. Por vezes a filha é bem pequena, na sua infância ainda, e a mãe comete o absurdo de torná-la sua confidente, contando suas frustrações de mulher e criando um mundo de culpas contra o pai.

O filho ou filha única suporta todas as cargas, e tendo tudo. Mas, normalmente nunca tem uma infância própria, e na adolescência continua vivendo em função da problemática mãe solitária ou queixosamente doente, quase sempre não dormindo preocupado com o que pode acontecer. Simultaneamente há a desastrosa superproteção, em que a criança nada tem que ajudar, porque está tudo feito, não há responsabilidade de tarefas, há um controle ansioso, um cuidado excessivo que tira da criança a oportunidade de crescer. Então, o jovem mais tarde tenta fugir.

O filho superprotegido, na adolescência ou até mesmo na vida adulta pode tornar-se indolente, exigente, inseguro, mascarado e com atitudes de arrogância, pouco responsável, egoísta, sem defesas psíquicas e sempre fixado especialmente na mãe como referencial seguro onde se pode acolher. Pode, e acontece freqüentemente, tornar-se um adulto insatisfeito, complexado, infeliz e facilmente sujeito à neuroses depressivas (todas estas situações são de análise com base na psicanálise sistêmica.


O que acontece com estes adultos crianças?

"É incrível como as fêmeas humanas tem uma dificuldade estratosférica de lidar com a culpa”.

A sistemática é a seguinte: Quando elas estão erradas, primeiro negam até o fim até que as provas sejam apresentadas e seja inegável a culpa, depois disso, visto que não tem mais jeito, choram e choram, mas admitir o erro mesmo, só quando está tudo caindo sobre suas cabeças, e mesmo assim ainda tem um "mas", sempre tem um "mas".

Nunca estão erradas por completo, sempre tem outro culpado que não sejam a própria egolatria.

E com esse ciclo vão se tornando sociopatas sem coração que "mentem que nem sentem".

E de quem é a culpa disso? Eu diria, que depois da culpa da própria pessoa, secundariamente a culpa disso é das mães e dos pais que as superprotegem independente se estão certas ou erradas. Por isso quando chegam à idade adulta, ou perto disso, não estão preparadas para as consequências das suas escolhas erradas que fazem aí ficam jogando a culpa pros outros. É tipo aquela frase to Homer: "A culpa é minha eu jogo em quem eu quiser".

Mas a vida real não é assim.

Pais e mães, mulheres são frágeis realmente, mas quando superprotegidas tem grandes tendências a se tornarem monstros sociopatas e ególatras, e altamente nocivas tanto pra sociedade quanto pros futuros namorados/maridos! Não façam isso.

Na criação do sexo masculino os pais não cometem tão recorrentemente esse erro, mas também cometem em muitos casos, principalmente quando o filho é único, a criação segue esse mesmo ritmo da criação da mulher, e a regra também é valida pra esses.

Quando os filhos estão certos tem que defender mesmo, agora quando estão errados, tem que que mostra os erros e se necessário puni-los.

"Determinação e competência para planejar (não só desejar e ganhar como foi na infância e adolescência) e fazer acontecer: essa é a característica que faltou ser estimulada e desenvolvida, na maioria das vezes, nesse homens e mulheres"      


As mulheres das últimas três décadas tiveram e têm muita energia de superação: cuidam da casa, educam filhos, estudam, trabalham, e ainda têm se desenvolvido para serem companheiras interessantes, mas muitas ainda estão amadurecendo... cada uma no seu ritmo e no seu tempo. Muitas ainda correm para casa dos pais, quando as dificuldades aparecem em seu casamento e seus problemas são mal resolvidos pois o mecanismo de defesa ( fixação e regressão ) utilizado é fixado na criança superprotegida. Simplesmente busca a proteção dos pais, notada nas mães!

É esperado que o homem ao tornar-se pai, assuma com responsabilidade a missão de criar, sustentar e educar seu filhos. Ele é preparado e educado para iniciar e crescer na vida assumindo responsabilidades: contas a pagar, a família e a realização de metas de sobrevivência e de crescimento.

Desenvolver essa estrutura fazia dele um representante bem criado da masculinidade, pois nem se contava tanto com a possibilidade homossexual. Mas, independente da orientação homo ou heterossexual, esse filho estava pronto para assumir a própria vida e até no futuro auxiliar os pais que envelheceriam.

Mas os tempos de fartura e a melhora de condições de vida provocaram muitas mudanças nas famílias de classe média e media alta. Mudanças nem sempre positivas, pois hoje colhemos frutos nada saudáveis dessa fartura em muitas famílias e na estrutura psicossocial e sexual de muitos filhos.

Muitas famílias no desejo de desempenhar uma excelente paternidade e demonstrar amor, se autoafirmavam socialmente oferecendo o melhor a seus filhos, sem estabelecer para eles uma relação custo-beneficio. Ou seja, sem criar condições para que os presentes, prêmiosou ‘benefíciosfossem adquiridos.

Em muitos desses casos, esses pais também não impunham condições, não davam para esses filhos a responsabilidade e referência de cuidar bem e preservar suas "conquistas". Isso estimulava a visão de que tudo poderia ser adquirido sem muito esforço ou sacrifício e que tudo era descartável, ‘se estragar a gente repõe.

Imagine isso acontecendo com crianças e jovens em pleno mundo de abertura às novas tecnologias: antigamente Atari, depois Playstation, Wii, computadores, tablets... E isso tudo somado a outros mimos oferecidos pelos pais como: moto, carro, roupa de grife, tênis de marca, dinheiro para sair, viajar ... Enfim, um vidão!

Quem não gostaria de ter tanto prazer e regalia?

Mas paralelamente a esse universo, associa-se um outro fator: filhos homens, muito mais estimulados a atividades físicas - esportes de lazer e não com espírito competitivo ou de dedicação – são pouco estimulados a atividades que exijam foco e concentração. Isso pode fazer com que prazeres imediatos e que exijam pouca determinação e dedicação sejam o foco de suas atividades.

E os estudos?

Alguns filhos com mais habilidades intelectuais podem seguir bem, talvez abaixo do seu potencial real, mas seguem. Outros com algum tipo de dificuldade ou com menos facilidades podem desistir de estudar ou ir para um colégio mais fácil, faculdades menos puxadas, sempre fugindo frente às dificuldades ou minimizando as possíveis concorrências.

Esses pais também costumavam (e costumam) impor poucos limites, notas, desempenho, continuidade... Isso poderia significar que seu filho não era tão bom e pais que têm medo de não serem amados costumam exigir menos.

E aí como fica a vida adulta desses filhos(as) superprotegidos(as)?
Afinal, eles foram criados com seus desejos facilmente atendidos, com poucos estímulos para conquistas e com a sensação de que seus desejos se transformavam em uma ordem magicamente realizada.

Quem vivenciou todas as condições mencionadas pode se tornar um adulto com baixa autoconfiança, imaturo(a) para as competências e concorrências que a vida exigirá dele(a). Às vezes um reclamãoque se sente injustiçado, ou que nunca tem maturidade para levar adiante um negócio, um emprego. Eles proclamam ao mundo o quanto os outros sempre são traiçoeiros, injustos e exigentes. Fica à espera de ser bem tratado, ajudado, e quando isso não ocorre, vive o papel de vítimas, de coitados.

Determinação e competência para planejar (não só desejar e ganhar como foi na infância e adolescência) e fazer acontecer: essa é a característica que faltou ser estimulada e desenvolvida, na maioria das vezes, nesse homem e mulheres.

No caso especial do homem, sexualmente podem se tornar homens inseguros e até desenvolver dificuldade de ereção. Homens inseguros, ansiosos e temerosos têm mais chances de desenvolver quadros secundários de ejaculação precoce; outros podem desenvolver fetiches ou fantasias sadomasoquistas. Desenvolver segurança e autoconfiança para o sexo também requer a sensação de: eu sou capaz!

Afetivamente esses homens vivem com frequência o papel do bonzinho, são carinhosos, divertidos, prestativose atenciosos. Dificilmente conquistarão mulheres que exijam deles uma atitude pró-ativa. Mulheres competitivas ou impetuosas não conseguem conviver muito tempo com esse homem bonzinho, mas pouco pró-ativo.

Mas como vivem poucos sucessos, cativam em algumas pessoas o afeto filial de: o cara que não tem muita sorte e que precisa ser ajudado, apoiado.

Poucos avaliam a inconsistência da maioria de suas atitudes pró-ativas na vida e no trabalho, ou suas eternas atitudes de ‘espera: espera de um bom emprego/salário, espera de um bom negócio, espera de bons clientes, espera de apoio familiar, espera da ‘Mega Sena, espera da sorte...

Na profissão?

Após uma sequência de insucessos no trabalho, adultos que foram superprotegidos podem se tornar depressivos, derrotistas, ou podem se tornar adultos que se acomodam no papel de vítima, e mais que acomodados, alguns não admitem adequar seu padrão de vida ao seu ganho, pois na sua imaturidade e vaidade; merecem ser atendidos nos prazeres, mesmo nunca tendo efetivamente feito coisas no sentido de conquistar esse crescimento.

Muitos passarão a vida como dependentes, dependem da empresa do pai, da mesada, da aposentadoria do pai, dos bens, da herança... E esses pais inutilmente sustentam esses fracos egos com a ilusão de que estão ajudando-os, mas de fato muitas vezes esses pais são reféns de um sentimento de culpa. Eles se questionam onde erraram, mas também acreditam que esse filhos são ‘coitadose continuam ajudando, ou melhor, protegendo.

Pais de filhos adultos podem e devem orientar, estimular, apontar caminhos, mas nunca se responsabilizar ou efetuar a conquista (nem pagar a conta!) por eles. Como popularmente se diz, estimule o melhor dele, ensine a pescar, não dê o peixe!

Como romper essa dinâmica incapacitante?

Para nascer é necessário cortar o cordão umbilical, nascer é sofrido, respirar dói, mas é a única forma de entrar no ciclo da vida. Para sair dessas relações dependentes, é necessário sair da acomodação do útero familiar. Enganam-se aqueles que consideram isso ajuda, pois cada filho precisa aprender a viver sua competência e a sobreviver dela.

O prazer, seja de uma conquista sexual, da compra de um bem, da realização de um sonho ou da sensação de conseguir determinada façanha, só tem sentido quando se consegue dizer Eu consegui”. Há de se sair do conforto de ser ajudado para que a maturidade possa acontecer. Se isso dói? É claro que dói, mas sem viver a dor, não se desfruta o prazer dessa conquista e se vive eternamente na ameaça de não ser capaz!